17 de fevereiro de 2011

Contos não contados de Solaris #3 - O Despertar pt4 (final)

E, finalmente, a parte final de nosso conto.
Para quem ainda não leu, segue abaixo os links das primeiras partes:


Boa leitura.
O Despertar

- Eu sou o líder agora, eu mando! Ele não entra.
- Desce daí Bleiner, para com essa besteira!
- Só vou descer depois que esse anão voltar pra cadeira dele... não quero ele na comitiva.
- Bleiner, nós vamos sair daqui e te deixar sozinho. Se os drows vierem não estaremos aqui pra te ajudar...
- Não tem problema, sou forte. Bato em todos e ainda chego antes do jantar... modo de dizer...
- Tudo bem, nós te avisamos.

Bleiner, o novo líder da Comitiva Escarlate discute com Kreev sobre a participação de Knurl, o general, nos torneios de Dneeth. Os torneios organizados pelo segundo distrito são famosos pelos prêmios, sempre desejados por todos. Desde que perdeu seu anel para O Sombra, Bleiner deixou de participar dos torneios e passou a organizá-los, tudo com a intenção de recuperar seu precioso item em um plano arquitetado minuciosamente. Agora, o anão louva-deuses está interrompendo seu plano, assim como seu antigo mestre Roxie o fizera. Mas já sabe como fazer para contornar a situação.

No quartel general do segundo distrito, como Knurl  gosta de chamá-lo, é discutida a defesa para o ataque drow desse ciclo. É quase como uma tradição em Dneeth, os distritos se atacarem em datas programadas, cada um em seu determinado ciclo, criando um ritmo para a infinita guerra do mundo-mente de Nahn. Porém, inesperadamente, os drows que deveriam ter atacado no dia anterior não o fizeram, rompendo a tradição e gerando o caos nas defesas do segundo distrito, que se desespera ao imaginar um ataque repentino.

Sobre a Lança de Tallanor, Bleiner reclama de seu azar, o que antes costumava fazer com seu suricato de estimação, que fora levado pelo Sombra. “Sombra... mas que raios de nome é esse?”. Indignado, o meio-orc mal percebe a chegada do anunciador drow, esse que para, montado em seu sabujo, logo abaixo da Lança de Tallanor e chama por Bleiner:

- Meio-orc, desça daí. Tenho um recado ao general de seu distrito.
- Pode falar daí, estou te ouvindo bem.
- Pois bem, então diga ao seu senhor que não haverá ataque neste ciclo, e esperamos que retribuam esse favor no ciclo que está por vir, assim como os outros distritos o farão.
- E o que aconteceu? Bateu sol no distrito de vocês?
- O recado está dado, nos veremos no torneio. Passar bem.

* * *

O irritante badalar de sinos impede Moak de ouvir a risada de seu amigo Knacknahaito - ou ao menos ele espera que seja. Parece que Phrull desistiu de perseguí-lo. Moak procura por bastões solares, mas esqueceu que sua mochila estava com Knacknahaito. “Maldição!”
Os muros que o cercam parecem ser de duas casas mais os fundos de uma taverna. Mesmo no escuro ainda é capaz de sentir o cheiro de álcool no ar, o que o faz pensar a quanto tempo essas criaturas estão em Lokandar. “Como eu queria que meu anel funcionasse... maldito Bill!”

Contornando a casa, em busca de uma porta, Moak lamenta sua falta de sorte novamente ao tropeçar em um degrau de calçada e cair de face ao chão. Por um momento os sinos parecem cessar sua sinfonia de nota única e Moak pode ouvir um zumbido: o bater de asas de uma criatura que se aproxima com todo esforço que suas asas de seda permitem. Iluminado pelo bastão solar que carrega em suas patas traseiras, o lagarto-voador pousa sobre o gorro do gnomo e deixa cair o bastão, toma todo fôlego que merece, descansa por alguns minutos e, finalmente diz, com toda dificuldade:

- Me siga!

Moak entende o recado. Knacknahaito está pedindo sua ajuda. O gnomo fica grato por não ter assado a rara criatura, e pede desculpas ao lagarto por suas intenções. Como era de se esperar, o réptil voador não responde, ao invés disso, voa em disparada, contornando a casa que, agora com iluminação, Moak percebe ser uma ourivesaria. Talvez mais tarde passe por ali. O pequeno réptil voa o mais rápido que pode em direção a casa que trancava Moak, que, de acordo com a suspeita, é uma taverna, fedendo a vinho barato. De dentro, pode ouvir os assovios de seu amigo anão, que parece tranquilamente confortável.

- Knacknahaito! Finalmente! Precisamos sair daqui amigo, eles vão chegar a qualquer hora.
- Não se preocupe Moak, eles foram resolver um assunto urgente. Sabe, eles são bem amigáveis. Tem um sujeito chamado Amadar que me deu carne de coelho. Eu não deveria comer, mas estava...
- Não falo dessas criaturas, amigo anão, falo dos Lobos! Eles já devem estar esperando nosso sinal...
- Os Lobos estão aqui? Mas porque você não me disse nada disso?
- Porque só assim você viria...

* * *

- Moak saiu na última noite enquanto conversávamos. Se tivermos sorte, encontraremos o templo de Onainahaback a tempo.
- “Onainahaback a tempo” hehe, John e suas piadinhas...
- Perdão Rei Autolycus, mas dessa vez falei sério. Precisamos chegar o quanto antes a Lokandar. Essa cidade é um antro de ladinos. Sem ofensas Bill.
- Só eu me ofenderia aqui? - o gnomo demonstra certo humor.

A cidade de Ludwig fica a dois dias do Deserto Djabo. A cavalo a viagem é cortada pela metade, mas é impossível adentrar o deserto montado. As tempestades de areia assustam os equinos, que mais atrasariam a viagem do que qualquer outra coisa. O grupo liderado por John segue a cavalo até a casa do velho Zorak, o cavalariço, onde deixam suas montarias e seguem a pé pelo deserto.

- Deveríamos ter trazido algumas frutas...
- Quieto Bill, estamos quase chegando.

Bill estava pronto para retrucar John e demonstrar seu descontentamento em meio de tanta areia, mas é interrompido por um impacto que o deixa surdo. A tempestade cessa, e logo a frente pode ver as torres de Lokandar, da mesma maneira que Moak vira, porém dessa vez, do poço de luz, um raio negro cresce em direção ao céu. John parece dizer algo, mas Bill não consegue ouví-lo, assim como os outros integrantes do grupo.

O dia que estava prestes a acabar, repentinamente, vira noite. E dessa vez, sem o lindo rosto de Endharkar.

* * * 

- O que foi isso Moak? - grita o anão assustado com a explosão que se inicia.
- Eles deram inicio... adiantaram o ritual... malditos.
- Que ritual Moak? Você não me diz nada!
- Desculpe amigo, mas sua presença é realmente muito importante e eu sei que, se eu dissesse que enfrentaríamos o exército do submundo você não viria...
- Exército do que? Er... não esqueça que está falando com Knacknahaito, o temido druida metamorfo, que certa vez impediu Pinus de ser invadida pelo exército anão. Lembra disso? Anões são muito mais fortes que esses seres do submundo ai que você diz e...
- Novamente, peço desculpas Knaknahaito. Mas agora precisamos dar inicio ao plano, mesmo sem os outros integrantes. Você acha que tem espaço para se transformar aqui?
- Bom eu acho que...

Subitamente o diálogo é interrompido por gritos de procura. Mesmo com a luz negra que cresce do poço de luz, Bill, a mando de Autolycus, grita por Moak, relutante,

- Moaaaaak! Está aí embaixo?
- Sim ele está... - Amadar, o gentil drow, sai de dentro do templo de Onainahaback e responde por Moak. - mas aconselho a não descerem aqui. Seu amigo já está subindo... não é mesmo? - agora voltado a Moak.
- Na verdade, pensei em ficar para, quem sabe, impedir essa loucura de vocês. - Moak responde tranquilamente. - Ainda tem aquela carne de coelho?
- Se vocês são Os Lobos, é melhor descerem... - Knacknahaito grita para o poço.

Agora com sua audição de volta, Bill pode ouvir a voz de Knacknahaito e avisa a seus amigos que devem descer. A corda arrebentada do poço não mais serve a nossos heróis, que dessa vez terão que improvisar. Todos estão munidos com cordas, mas sem árvores para fixá-las. “É por isso que se chama deserto Henk...” - Bill faz questão de informar. A antiga corda parecia estar amarrada em algo soterrado pela fina areia. Sem tempo para cavar, improvisam um nó na antiga corda e, um por um, começando por John, seguido de Autolycus, Henk e por último Bill, descem em direção a subterrânea cidade de Lokandar. Antes que John chegue ao chão, os sinos voltam a tocar.

- Eles estão no poço! - ouve-se um coro ao longe.

Como se surgissem do teto da cidade, um grupo de drows, comandados por Amadar, tenta impedir a investida do grupo de aventureiros. É quando Moak corre para as costas de Knacknahaito.

- É agora!

Knacknahaito, o druida-dragão metamorfo, calcula o espaço a sua volta e teme não conseguir controlar sua transformação, mas precisa tentar de qualquer maneira, pois seus amigos dependem disso. Bill está descendo a corda, quando do alto vê o grupo de drows iluminados por um bastão solar jogado ao chão. A metamorfose de Knacknahaito está quase completa, quando Bill percebe seu pesadelo de todas as noites se tornando realidade. Não são orcs, nem estão invadindo cidade nenhuma, mas o grupo de drows sendo atacado pelas garras do dragão verde de Knacknahaito o remete ao seu sonho. “Dessa vez não há como acordar...”.

O templo de Onainahaback está logo à frente, e é de sua cúpula que emana a luz negra, que de tão negra pode ser vista até mesmo na escuridão do subterrâneo. Autolycus chama por Bill e o indica o caminho do templo. “Estou logo atrás de você.” Uma labareda de fogo, vinda do dragão verde no qual o druida se transformara, ilumina toda cidade, mostrando sua exuberante beleza, além de seu teto coberto pela luz negra que emana do templo.

- Está aberto! - surge um grito de dentro do templo - O portal finalmente está aberto! Nossa rainha está liberta novamente!
- Mas o que diabos! Eles não podem ter conseguido... - John, incrédulo, corre em direção ao templo - Suas criaturas malditas! Não deixarei que destruam nosso mundo!

As portas do templo estão seladas. E mesmo após várias tentativas, Autolycus e Bill não conseguem destrancá-las. O grupo de drows que enfrenta o dragão verde Knacknahaito aumenta a cada minuto. Moak, agora com sua flauta, conjura esqueletos de troll para auxiliar na batalha, o que se torna obsoleto. O terreno é uma grande vantagem para os drows.

Passam-se mais alguns minutos de batalha e tentativas de abrir a porta do templo quando um cavalo de crina em chamas prateadas rompe as portas com seu galope. Sobre sua cela está a figura de um cavaleiro drow, em armadura prateada, cabelos longos e cinzentos e em seu ombro esquerdo, um corvo negro. Os drows envolvidos na batalha contra Knacknahaito e Moak param para contemplar seu herói. “O Sombra” - dizem em coro.

Autolycus e John aproveitam a deixa para adentrar no templo. Bill entra por último e fecha as portas. Logo no hall central é possível ver o que as criaturas chamavam de portal. Um grande caldeirão fervente é quem emana a luz negra que atravessa a cúpula e invade o teto da cidade. Alguns drows ainda permanecem no recinto, mas parecem assustados demais com a agressividade de John e nem se dão o esforço de lutar. 

- Nosso portal já está aberto - eles dizem. Não há nada que possa fazer para impedir o ressurgimento de nossa rainha. Os drows voltarão a vive em Solaris... Temos esse direito...
- Quietos! Seres imundos! Digam-nos como fechar o portal! - John esbraveja.
- O portal do mundo-mente não pode ser fechado... - um deles diz.
- A menos que queira passar toda a eternidade em Dneeth... - o outro completa em tom sarcástico.
- Então basta alguém entrar no portal que ele se fecha, é isso? - Bill, curioso - Vamos testar...
- Não Bill, não faça is-...

Antes que Autolycus pudesse interromper o gnomo, o pior já havia acontecido. Bill, com toda rapidez, arremessa sua algibeira em direção ao caldeirão. Os drows entram em desespero e, como era de se esperar, a luz negra some, o caldeirão se vira e o portal se fecha.

- Nossa rainha! Ela ainda estava em Dneeth! Como podem ser tão audaciosos! Deverão pagar com suas...

A cabeça do indignado drow separa-se de seu corpo em um repentino movimento do elfo guerreiro.

- Minha espada é viciada em arrancar cabeças. Mais alguém vai reclamar? - John, apontando sua espada de duas mãos para o chão, essa que goteja o sangue de sua última vítima.
- Isso foi desnecessário... vamos sair daqui. - Autolycus segue até as portas.
- Espere! Joguei a algibeira errada... - Bill, desesperado. - Henk vai me matar!

* * *

Não durou muito até que o herói dos drows percebesse o fim do ritual. Não pareceu ofendido. Aliás, mostrou um leve contentamento com o ocorrido. Suas intenções de liderar a investida drow em Solaris ganharam um novo nível, agora sem o intermédio de sua rainha.

Interrompidos pelo imponente cavaleiro, os drows cessam a batalha contra Knacknahaito, esse que cai exausto no chão, transformando-se novamente em seu corpo de anão.

- Não há mais porque batalhar, nosso ritual está completo. Deixem os forasteiros vivos para dizerem ao mundo que estamos de volta!

As palavras do Sombra são aclamadas com euforia. Ao ouvir os berros, Autolycus, John e Bill seguem para fora, onde encontram Henk sentado nos degraus que dão acesso as portas do templo.

- Ele está com seu anel Bill... - diz o paladino.
- Eu te peço desculpas Henk mas perdi a... o que? Ele está com o que?

* * *

Assim, nosso grupo de heróis impede o ressurgimento da rainha drow e fecham o portal que ligava Solaris e Dneeth. Porém a libertação do Sombra promete muitas outras histórias. Mais uma vez, os Lobos salvaram o mundo. Por mais um dia.

2 comentários:

  1. Orra, muito bom. Parabéns, Diego.

    Uma bela de uma campanha, apresentada em quatro atos curtos e simples mas estremamente empolgantes.

    ISSO é a essência do RPG.

    Continue assim, meu velho.

    Abração

    ResponderExcluir
  2. Perfeito.... não tem como ler esse post e não ter vontade de jogar... =P

    Só esperar mais 24 horas e 15 minutos para iniciarmos a nova campanha! =P

    ResponderExcluir