4 de fevereiro de 2011

Contos Não Contados de Solaris #2 - O Despertar pt2

Olá leitores assíduos!
Uma semana inteira de espera chega ao fim ^^ - exagero...
Publico abaixo a segunda parte do primeiro conto não contado de Solaris.
Caso ainda não tenha lido a primeira, recomendo que leia aqui.



O Despertar - Parte 2 
- Então era esse o “lugar misterioso”? Eu praticamente nasci aqui, se é que me entende...

Bill, ainda de sobretudo, reclamava da longa viajem que haviam feito pela Rota Ludovik até o porto de Lokah. John não dava bola para suas reclamações. Apenas sorria e mudava de assunto. Sabia que o gnomo não era o mesmo desde que havia perdido seu melhor amigo, Smoke. Contudo, a missão para o qual fora convocado pode ajudar Bill a recuperar as esperanças. Talvez esqueça sua perda.

- O próximo barco sairá pela manhã senhor, são 200 peças de ouro pela viagem dos dois mais a bagagem. Não cobrarei pelo embarque da carroça. A comida é servida ao meio dia em ponto no refeitório, uma refeição para cada um, estejam no horário. - o atendente sorriu por entre as grades da cabine.
- Eu almoço mais cedo, meu estômago funciona assim. Mandem servir o meu almoço as dez. - ordenou Bill.
- Lamento senhor, mas não servimos almoços individuais...
- Porque não trouxe meu barco John? - Bill sai em disparada para a carroça.
- Peço desculpas pelo meu amigo, ele sofreu algumas perdas ultimamente... - John cumprimenta o atendente e recolhe os tickets de viagem, indo em seguida para a carroça.

Ainda é noite e os dois se dirigem para a cidade de Lokah. Um belo descanso antes de uma viagem de seis horas de barco até o Porto de Borah. Lokah é uma cidade serena, não muito gentil com os visitantes mas também não é rude a ponto de expulsá-los. Baseia sua economia no porto e na pesca, com algumas poucas fazendas próximas a rota de Ludovik. 
Antes do sol nascer e de Endarkar se despedir dos mortais, muitos pescadores já estão na lida, o que faz com que Lokah desperte mais cedo.
Para a felicidade de Bill, o barco tem horário de partida as oito horas, o que lhe dá bastante tempo pra dormir, comparado aos seus últimos sonos interrompidos. Toda a noite, desde o “evento-que-não-deve-ser-lembrado”, o gnomo tem o mesmo sonho: 
Uma horda de orcs ataca uma vila de humanos que o clã Raposa planejava saquear. Os orcs carregam um estandarte com um diamante verde estampado e ateiam fogo nas casas próximas a um templo. Ninguém parece se importar com os ataques, até que um grande dragão verde surge e assusta as horrendas criaturas. Bill se assusta nesse momento e acorda.
Estaria escuro, não fosse o empenho da grande lua alaranjada em iluminar a cidade de Lokah. Bill ergue-se de sua cama e vai até a rua, apreciar o silencio noturno da cidade. Costumava fazer isso antes de se tornar líder dos Raposas, era como uma preparação para suas atividades, como um felino apreciando a presa. Mas dessa vez não pretende nada, apenas apreciar os raios de Endharkar sobre seu corpo e esquecer de tudo por um momento.

- Vejo que o frio não te intimidou dessa vez, gnomo Bill... - a voz era conhecida, apesar de um pouco diferente do rítmo habitual - Então, não vai querer abraçar um velho amigo?
- Você está bêbado Henk...
- Estou vivo Bill! E não deveria falar dessa maneira com um amigo que veio de tão longe pra te presentear... - o paladino meche em sua algibeira, fazendo tilintar algumas moedas enquanto procura, com dificuldade, pelo objeto prometido.
- Não agora Henk, estamos partindo para o porto - John sai da taverna carregando algumas malas - nosso navio sai na próxima hora.
- Hora, então John também está aqui! Seria essa uma nova reunião dos Lobos?
- Não! - Bill se exalta - Os Lobos não existem mais.

* * *

- Você acendeu nossos espelhos pequenino... porque fez isso?
- Talvez ele tenha gosto bom, vamos assá-lo!
- Quieto Dhrull, sabe que não comemos carne!
- Você não sabe como assustar os prisioneiros Phrull, ele nunca te falará nada dessa maneira...

O ambiente está escuro, e tudo que Moak pode ver são dois pares de olhos verde-luminosos a caminhar pela sala. Um dos pares parece falar algo com ele, mas a pancada na cabeça o deixou zonzo demais pra entender o que falam. O outro par parece preocupado, caminhando de um lado para o outro como se vasculhasse a sala.

- Knacknahaito... - Moak fala o mais alto que pode.
- O que ele disse?
- Não sei, talvez esteja delirando...
- Eu disse que a porrada era muito forte, coitado do pequeno, mal consegue falar agora.
- Vamos levar ele para A Sala. Saberão melhor...
- Quieto Dhrull! Eu sei o que estou fazendo! Me dá aquele lampião, talvez ele seja acostumado à luz...

Agora com iluminação, Moak pode finalmente presenciar a figura de seus raptores. Duas criaturas de estatura élfica porém com pele negra como a noite e cabelos brancos como a cidade de Anoehin nessa época do ano. Moak e Knacknahaito viajaram por toda Solaris. Visitaram até lugares que nunca haviam sido mapeados, e Moak, até então, não havia presenciado tal criatura.

- Onde está Knacknahaito? - Moak, agora mais conciente, finalmente pergunta.
- Do que está falando amiguinho? - os "par de olhos mais próximo" tenta compreendê-lo.
- Bom, nós comemos o seu amigo!
- Para com isso Dhrull! A pobre criatura não sabe o que fala... Me diga pequeno, porque acendeu nossos espelhos?
- Knacknahaito, me deixem ver Knacknahaito.
- Melhor cooperar pequeno, não queremos machucá-lo.
- Que tal assim - os olhos mais próximos, agora distinguíveis como “a criatura de calças brancas”, erguem-se e se viram para Moak - você nos diz o que faz em nossa cidade e te devolveremos seu anel. O que achas?
- Meu anel? - Moak checa seus dedos a procura de seu anel, sem êxito - Bom, não faz diferença - o gnomo retoma aos poucos seus sentidos - o anel não serve pra mais nada mesmo. Gostaria de ver meu amigo agora, será que podem me soltar? Prometo que assim que o encontrar, partirei de sua cidade e nunca mais voltarei, nem falarei a ninguém que estive aqui.
- Esperto, hehe, gosto de você. Mas esse não é o problema, pequeno. O que queremos saber é porque está aqui. Basta dizer a verdade que você será livre e poderá ver seu amigo.
- Nós... caímos aqui...
- Mentira! Vou chamá-la Phrull, isso está saindo do controle!
- Acalme-se Dhrull...Não temos mais que nos preocupar com isso. Depois de hoje anoite, o mundo todo saberá que estamos aqui. Esse pequeno duende não será problema nenhum se solto. Mas precisamos saber se ele estava aqui pra impedir o que estamos prestes a fazer, ou se realmente caiu.
- Você é um bocó, Phrull!
- E aí pequeno? Vai nos dizer ou não? Confesso que gosto de você e quero te deixar sair, mas meu amigo Dhrull é meio doido. Se não nos falar a verdade dessa vez, serei obrigado a te abandonar, ai ele fará o que quiser com você. Eu não desejaria isso nem pro meu pior inimigo...
- Não vim aqui impedir seu ritual. - Moak, imponente finalmente coopera - Agora pode me soltar, preciso achar meu amigo.
- Falei! Ele sabe do ritual! Vou até o conselho avisar a rainha! - Dhrull deixa o recinto, dessa vez sem ser impedido por Phrull.
- Melhor você sair daqui pequeno. Não sabemos nada de seu amigo, e espero que esteja falando a verdade sobre nos impedir.  - o “calças-brancas” desamarra Moak. - Toma seu anel... agora corre.
- Eu falei a verdade, não serei EU quem vai impedir... - Moak se afasta, o mais rápido que pode, levando o lampião e deixando Phrull no escuro, o que não parece impedí-lo de correr atrás do gnomo.

* * *

O Porto de Borah é o mais movimentado de todo Reino Dokapon. Muito usado pelos clãs de ladinos para transporte de “mercadorias” porém livre de saques, privilégio único em toda Solaris. Além disso, por pertencer ao reino regido por Autolycus, ostenta de uma decoração luxuosa, com bustos do imponente rei elfo nas duas pontas superiores do umbral que enfeita a entrada. Ainda é dia e o lento barco ancora no porto. Dele saem John, Bill e, por incrível acaso, Henk, o paladino agora não mais bêbado.

- Vamos até Ludwig e lá deixarei claro do que se trata toda essa viagem Bill, mas antes Henk tem algo a lhe dizer... - John, com seu semblante sempre confiante, explica-se ao gnomo.
- Bom, acho melhor te entregar isso antes de iniciar qualquer história.

Henk entrega sua algibeira a Bill, onde entre poucos trocados, guarda o que se parece com uma pepita de ouro. Bill deixa a algibeira cair, não por acaso, por desprezo.
- Não preciso disso amigo paladino. Sei que as intenções são boas, mas realmente não preciso disso e você sabe...
- Você está olhando com seus olhos Bill. O que você deixou cair no chão, Gonar tenha piedade, é mais sagrado do que pensa. - Henk se ajoelha e junta o objeto.
- É uma pepita de ouro, os deuses não se importam com ouro...
- Não é uma simples pepita Bill. Vamos, olhe direito, mas não com seus olhos, olhe com... sua fé!
O porto está bem movimentado, como de costume, e enquanto conversam, o trio de amigos caminha em direção a saída. John carrega a bagagem de Bill nas costas, quando se lembra que a charrete ficou dentro do barco e segue para resgatá-la. Henk acompanha Bill até a entrada de um bar, que serve os visitantes, onde parece ser menos movimentado. Bill ergue a pepita em mãos e a analisa novamente:

- Ainda me parece uma pepita...
- Tenha paciência, você já vai entender.
- Todo esse mistério me chateia. Gostaria de entender logo isso...

Nesse momento, a pepita de ouro emana uma luz dourada, como se refletisse um infinito raio de sol. Trepida sobre as pequenas mãos do gnomo e cai no chão. Por um momento, Bill tem certeza de ouvir a voz de uma dama, dizendo-lhe coisas inteligíveis. 

John chega com a charrete e convida-os a entrar:

- Vamos, Autolycus nos aguarda.
- Você ouviu isso? - Bill, assustado, recolhe a, não mais iluminada, pepita do chão.
- Não agora, mas sei do que se trata. Acredito que tenha entendido o que queremos te dizer.
- Isso é... é ELA?
- Não sabemos. Por isso vamos até Autolycus...

Um brilho de esperança surge no olhar do pequeno gnomo. A chance de resgatar sua velha vida agora parece-lhe tangível. Talvez até, quem sabe, seu velho amigo. Mas evita pensar no assunto. Aproveita sua fagulha de esperança para pensar positivo.

- E a história Henk? Voce disse que tinha uma história a contar...
- Ela já é conhecida Bill. Contada várias e várias vezes pelo nomade Alexander e negada por Autolycus em todas essas vezes.
- Então só pode ser ela!

...continua.

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