6 de setembro de 2010

Diário de Campanha: O Novo Senhor da Guerra - 8ª Sessão

Bem Vindos à Alendar!

“Pô tio... me arruma uns trocados ai...” – Disse estendendo a mão para Áries.

Estávamos na Cidade do Sul, minha terra natal, onde eu passei toda a minha infância. Eu viajava com um grupo famoso por suas façanhas e que ostentavam de uma riqueza exuberante... e NENHUM FILHO DE ACMYR ERA CAPAZ DE ME EMPRESTAR 2000 MANGOS PARA COMPRAR UM MALDITO BRACELETE!!!
O tiefling é um cara legal, mas mão de vaca. Castiel, a barda, apesar de bonita, parece compartilhar de minha pobreza. Kreev... bom, ninguém em sã consciência chamaria o lagartão de pobre se quisesse viver. O “marinheiro”, o mais novo a se juntar a nós, usa roupas esquisitas e um cabelo estranho. “É um marinheiro”, como eu sugeri. Deve ser tão pobre quanto eu. Acredito que o integrante mais fino da Comitiva seja Bleiner. O que é irônico quando percebe-se que Bleiner é um meio-orc... Mas ainda me lembro da figura carrancuda do monge – isso mesmo, além de tudo ele é um monge! – dando-me algumas peças de ouro em tempos atrás. Que Acmyr conceda toda a sorte ao garoto...


Estávamos em frente ao “Empório da Presa e da Caça” – uma boa loja de armas do Reino de Donkapon. Não a melhor, pois seus preços nunca baterão aos oferecidos pela “Cutelaria do Senhor Heldar”, em Ludwig, mas ela tinha um certo requinte; um requinte requintado até de mais, para um cara como eu. Com o perdão da redundância.
- Certo. O plano é simples – Começou Áries reunindo eu, a barda e Bleiner. – Eu entro na loja, compro o que precisamos e saímos de forma civilizada. – Não sei por que ele me fitou ao dizer isso.

Todos concordaram com um aceno de cabeça e logo o tiefling entrou, ereto. Não consegui observar Kreev ali por perto, nem mesmo nosso novo amigo marinheiro; aliás, a Cidade do Sul estava quieta demais naquele momento. Alguns minutos depois, o bruxo chifrudo voltou com seus pertences. Seu semblante não era dos melhores.
- Sinto muito, mas eu só consegui comprar poucas peças para mim mesmo. – Disse ajeitando seus equipamentos.
Castiel suspirou. Bleiner olhou para a loja com desdém. Eu queria aquele bracelete.
- Tudo bem, eu acho que sei o que fazer. – A barda tomou a iniciativa. – Eu me apresento, e tentarei comprar os itens que ficaram faltando para nós.

O monge e eu aplaudimos a idéia com seguidos uivos. Afinal... cara, ela é uma barda... e atraente... Não haveria calhordas suficientes que não assentiriam a uma boa conversa da moça.
Na verdade, houve.

Poucos minutos depois, a barda saiu da loja conseguindo carregar um pouco mais do que uma varinha, uma túnica e alguns itens para combate pessoal.
- Sinto muito, mas eu só consegui comprar poucas peças para mim mesmo. – Disse ajeitando seus equipamentos.
- Eu acho que alguém já disse isso, moça... – Respondi coçando minha barba peniquenta.
O negócio era o seguinte: pouca grana, o pouco que tínhamos não eram lá muito verossímeis, uma loja com bons produtos, bons produtos esvaziando-se da boa loja, trupe quase de partida, dois desafortunados precisando de alguns itens de proteção a mais...
Peraí. Eu disse “desafortunados”?
Por Lou Devoule! Os dois desafortunados que sobraram eram mestres do convívio e da dobra de idéias! – ou pelo menos deveriam ser.

Bleiner me fitou. “Vou entrar lá” – Disse empolgado. Os jovens caninos do rapaz saltavam com seu maxilar. “Chafurda! Preciso fazer algo!” – Pensei comigo mesmo. Tive vontade de levitar meu orbe mágico enquanto pensava numa solução. Isso sempre me ajuda a trazer idéias. Coloquei a mão no bolso do jaleco. O meio-orc dirigia-se ao balcão. Tateei o orbe, pensativo. Bleiner gesticulava com o atendente. “Flutuar... flutuar...” – Pensei. O monge olhava a lista dos artefatos que queria. “Mas é claro! Flutuar!” – Finalmente gritei. Talvez um pouco alto de mais. Num rápido movimento, estendi minha mão direita fazendo a manga do jaleco correr para trás, fitei o bracelete sob o balcão. “Você é meu”. – Pensei. A jóia deu um pequeno salto e voltou ao mesmo lugar, poucos segundos depois, ela se mexeu novamente, eu tinha que ser cuidadoso. Finalmente a removi do balcão usando minha mente. Chegou a tocar o chão por um dedo, o que acho ter chamado a atenção de Bleiner. O meio-orc não sabia se olhava para o vendedor ou se olhava para o bracelete que jubilava para fora da loja. Com cuidado, conduzi-o até o lado de fora, onde, em segurança, coloquei-o em meus pertences.
Aaah... O mestre da telecinesia sobe aos palcos principais, faz seu show e deixa sua platéia angustiada pela próxima apresentação... “Obrigado, obrigado...” – Disse para mim mesmo jogando o bracelete dentro da minha pequena mochila.
Bleiner ainda gesticulava com o vendedor e isso poderia significar problemas. Procurei Castiel e Áries, que já estavam há alguns metros da loja. Foi fácil encontra-los, pois pareciam as únicas vivas almas a caminhar pela cidade. Pena eu só perceber este pequeno detalhe horas mais tarde.
Bleiner já vinha atrás de mim, feliz com seus equipamentos. Sorri fazendo-lhe um sinal de que afanei o bracelete. Ele ria, mas eu não sabia diferenciar se estava rindo comigo ou se ria de mim...
- Bom... melhor seguirmos para o navio antes que as coisas piores. – Disse alcançando o bruxo e a barda. – Onde estão Kreev e o marujo?
- Logo à frente, no navio. – Respondeu Castiel que ainda analisava seus novos pertences.

* * *

Quando alguém te diz que seus parceiros estão “logo à frente, no navio”; você espera que, de fato, eles estejam “logo à frente, no navio”. Entretanto, não foi exatamente isso o que aconteceu.
Aproximamo-nos e eu pude ver o corpo de Kreev e nosso amigo de cabelo engraçado esparramados pelo chão, na hora pensei “Orra! Se quisessem beber poderiam ter me chamado, pelo menos!” Mas depois percebi que eles estavam desmaiados. Como eu percebi isso? Simples, eu comecei a sentir meu corpo mole e as membranas fechando, meu cérebro já não comandava minhas ações, lembro-me de cair, sem sentir dor alguma, e ver o marujo levantando-se vagarosamente. Desmaiei também.

- Por Algoron! Meu corpo está todo moído! – Acordei sacolejado por uma força que não estava presente na pequena sala. Eu parecia um pedaço de pão velho que passou dias demais no fundo duma mochila de um péssimo aventureiro.
- Que bom... o bêbado acordou... – Suspirou Kreev. – Agora nosso time está completo. – Castiel riu, Bleiner fez o mesmo na esperança de agradar a moça.
- Onde estamos? – Disse enquanto me punha de pé. Como de costume, comecei a averiguar se eu ainda estava com todos os meus equipamentos. É sempre bom averiguar que tudo está no seu devido lugar depois de uma noite de sono, principalmente se você for um cara como eu. E então, percebi que nenhum de meus pertences estavam no lugar... Minha mochila se fora, meu precioso orbe mágico esvaeceu-se e não obstante, meu bracelete sumiu! O BRACELETE QUE ME EXIGIU TODA UMA TÉCNICA DISCREPANTE PARA ROUBÁ-LO!! – “Pelos deuses! Onde estão as minhas coisas!?” – Gritei num frenesi. Os cabelos caindo no meu rosto eram limpados incessantemente pelas minhas mãos, como lavadores de vitrais. Percebi que Áries me olhava com dó. Deve ter pensando “Pobre homem... mal começa o dia e já está desse jeito...” mas o fato é que eu não era o único a estar sem meus equipamentos. Olhei para o tiefling, e ele usava seus trajes simples. Nada de belos mantos vermelhos ou cajados. Kreev, mesmo sem a armadura, estufava seu peito escamoso enquanto parecia querer arrancar a minha cabeça só para se divertir. Castiel... ah, sim... Castiel... ela estava sem sua flauta e sem sua mochila... os trajes curtos eram chamativos. Mas eu tinha que dividir espaço com o monge, quando olhava discretamente para ela. O pobre meio-orc, que vestia suas próprias roupas, era um turbilhão de euforia ao ver a garota. Percebi que eu vestia meus trajes sujos e costumeiros também, o que deduzi que, seja lá quem nos capturou, provavelmente percebeu que um meio-elfo fétido e carniceiro sem roupas seria uma agressão à sua vista.

A sala era pequena e desconfortável. Haviam caixas de madeira que cheiravam mal no fundo dela, e uma pequena porta na outra extremidade. Nenhuma janela ou portinhola. O teto formava uma espécie de abóbada toda em madeira. De repente, eu ouvi um “chuááá” vindo à minha direita e rezei para que não fosse Bleiner urinando em mim. Vai saber!? Em tempos atrás eu costumava ver parceiros de bebida empolgados de mais por causa de garotas. Por sorte não era. Estávamos no mar, a bordo de um navio desconhecido e indo a um lugar mais desconhecido ainda.
Kreev estava quieto, sentado numa das caixas tentando ouvir o barulho do mar, o que era meio complicado com Castiel andando para um lado e para o outro tentando abrir as caixas para ver o que elas tinham dentro. Áries revirou os olhos. Eu sentei próximo do meio-orc tentando pensar quem seria o desgraçado chafurdante que teria nos capturado. Então, percebi que o nosso amigo “marujo” não estava conosco.
Mas que coincidência, não!? Ele é um marujo e estamos no mar!?
Mal conclui meu raciocínio e a pequena porta foi aberta. Para dentro da sala, pulou uma figura baixinha, mas não era um anão como os que vimos em Anoehin ou Ludwig. Era um halfling, um pequeno e gorducho halfling que nem de perto parecia ser um marinheiro ou um homem do mar como eu conheço. Seu nome ao certo eu não me lembro, mas disse que precisava falar com a Comitiva Escarlate sem delongas.

* * *

- Calma Kreev! Você vai matá-lo! – Gesticulou Áries tentando conter a montanha reptiliana que seguia em direção ao halfling. Se o pequeno gorducho não teve medo, eu tive no seu lugar. Kreev é um draconato imenso. Mesmo desarmado, tenho certeza que um murro dele deve fazer você, até, sangrar...
Bleiner pareceu empolgado com a investida do amigo e quis fazer igual, entretanto, subitamente, o halfling assoviou e na porta da sala surgiu uma enorme silhueta que conteve o ataque do guerreiro e do monge. Um minotauro, se é que eu já vi um. Não, é sério! Aquilo deveria ser um minotauro. Músculos cor de bronze que refletiam o brilho do sol atrás dele, faixas apertadas dividiam o tríceps do bíceps e uma enorme argola balançava de suas narinas.
- O que está acontecendo aqui!? – Bradou com seu vozerão. Parecia um trovão que precede a chuva.
- Acho que nossos convidados estão muito agitados, eu entendo. – Disse a pequena criatura colocando as mãozinhas sobre a barriga de halfling.
- O que querem de nós?! Por que nos seqüestrou?! – Retrucou Kreev. Os punhos novamente fechados.
- Ora, ora... só queremos garantir a segurança de vocês até a nossa terra. Joker não contou nada a vocês?

Neste instante, nosso amigo marujo adentrou a pequena sala, se esgueirando pelo minotauro. Seu cabelo mais arrepiado do que da primeira vez. Parecia estar tragando uma espécie de fumo, mas eu não sabia dizer exatamente o quê.
- Então você está com eles... – Profetizou Áries. Joker deu outra tragada, expelindo fumaça pelo nariz e finalmente disse.
- Precisamos de vocês. Precisamos da ajuda da Comitiva Escarlate em Alendar.
Vou te falar, esse negócio de se juntar a um grupo de aventureiros está começando a me parecer uma roubada... Quero dizer, quando me juntei a Kreev e os demais, eu buscava uma chance de sair de Pinus e entornar alguns barris! Muita festa e dar uns sopapos em alguns anões rabugentos. Agora, estou em outro continente, com gente esquisita e não há nem sinal de bebidas por perto. E não vou nem lembrar que estou seu meu bracelete!...

Atracamos num “porto”. Se é que posso dizer assim. Joker o chamou de “dock” e arrumava a pequena âncora enquanto tragava mais um de seus fumos esquisitos.
Não fomos açoitados, muito menos tivemos as mãos atadas. Estávamos livres, mas fortemente vigiados pelo enorme minotauro atrás de nós. Ao fim do dia, chegamos a uma pequena casa e o baixinho halfling entrou abrindo a portinhola para nós “Por aqui” – ele disse.
Entramos no aposento. Uma pequena e delicada casa de teto baixo que obrigava todos a se curvarem, menos Bleiner. Da janela, pude ver a paisagem: enormes castelos negros se fundiam com o horizonte noturno. Fontes de luz surgiam variavelmente pelos vilarejos negros. Era como se a cidade fosse feita de onyx ou algum outro minério enegrecido. A casinha do halfling parecia uma contradição ao ambiente.
Sentei-me no chão enquanto ouvia o que o pequenino tinha a dizer.

* * *

A principio, fomos requisitados para uma nova aventura. Esta terra de solo negro e castelos fantasmagóricos é lar de criaturas conhecidas como “Warforgeds” - segundo o halfling bem lembrou, “Forjados Bélicos, na língua de onde vocês vêm”. A principio, o pequenino gorducho e seus camaradas não gostam muitos destes forjados... e contratam aventureiros para eliminar alguns deles. Entretanto, ele disse que nossa missão é um pouco mais nobre do que isso: Iríamos atrás de um objeto que estava sob poder dos Warforgeds. Um artefato, a princípio. E então você me pergunta “Mas Ébrio, por que raio de motivo vocês irão atrás deste amuleto, seu monte de lixo etílico?!” - No que eu responderei: “Simples. Para termos nossos equipamentos de volta! Eu não usei minha telecinesia à toa para pegar aquele bracelete! Eu o quero de volta! E estou disposto a ir chutar alguns seres de metal se for preciso para te-lo novamente!”
O grupo relutou a principio, mas finalmente, todos perceberam que aquele era o único meio de reavermos o que de fato era nosso. O halfling ainda ajudou a quem se interessou, entregando alguns machados e uma espada para Kreev e Castiel. No meu caso, sugeri que ele guardasse a espada no baú, no baú!
A enorme montanha de músculos – também conhecida como minotauro – ainda sugeriu qual o melhor caminho tomarmos para encontrar o artefato. Ele nos informou que os forjados o mantém em uma caverna de mineiros há poucas milhas dali. Seja lá o que “milhas” significa...

Sem delongas, partimos. A rancorosa, o enfurecido, o excitado, o mal-humorado e o desligado. Após uma hora e meia de caminhada, chegamos à encosta do que me pareceu uma montanha.

- Provavelmente, esta seja a mina de que o grandão falou. – Disse tentando olhar lá dentro. Era tudo escuro, embora um forte cheiro de “escravos laborais” saia da abertura da mina. Era como o fedor de duzentos homens, peludos e ensebados, esfregando seus corpos suados uns aos outros enquanto levantavam quilos de rochas e carvão.
- Rápido! Devemos entrar! Sinto que algo nos observa! – Grasnou Bleiner jogando seus caninos quase na testa.
Entramos todos naquele corredor fedegoso. O cheiro só não era pior do que a escuridão que nos cercava. Kreev, aproveitando um pouco da luz do luar, fez algumas tochas com galhos de árvores que circundavam a montanha, e Castiel prestou a gentileza de rasgar pedaços superficiais de suas roupas para manter as tochas queimando... Não eram somente as tochas que queimavam...
Mais alguns passos e eu já estava acostumado ao cheiro. Quero dizer, para um cara que passava dias numa praça bebendo, eu estava feliz em encontrar um ambiente tão “peculiar” quanto eu.

À medida que adentramos a mina, Kreev localizou uma sala, à esquerda do corredor. O corredor era largo e muito bem escavado, de metros em metros, haviam toras de madeira detalhadas fincadas no chão e que chegavam até o teto. Na pequena sala, o draconato percebeu dois seres estranhos escavando as paredes. As criaturinhas empunhavam picaretas enferrujadas e tinham seus pés presos por correntes. O lagartão perguntou o que eles eram, no que ficou claro perceber que os trabalhadores eram goblins. Goblins até que simpáticos. Estavam com muito medo da Comitiva, mas tinham mais medo ainda dos Forjados. Bleiner, talvez se identificando com algum elo perdido de sua família, tentou libertar os mineradores, mas só conseguiu livrar um dos dois goblins enclausurados.
- Nããão!! – Gritava o outro goblinóide preso. – Ajuda nós! Nós é bom!
- Sinto muito, mas acho que não consigo. – Respondeu Bleiner assustado.
- Eu posso ajudar... – Ofereceu-se Kreev com seu novo machado em mãos. Passava o dedo sobre o fio da lâmina fitando a perna do escravo.
- Nãão! Ele não! Ele vai matar nós!
- Ah! Nós vai morrer! Ajuda nós!
- Vocês querem parar de falar na primeira pessoa!? – Reclamei, confuso com a situação e dirigindo-me ao corredor.
- Nós bonzinho, nós promete. Mas ajuda nós!
- Espere. – Retrucou Kreev mandando o grupo parar. – Por quanto tempo estão aqui? O que sabem sobre essa mina?
- Oh, mina grande! Muitos caminhos...
- Conhecem algum... artefato que esteja por aqui? – Castiel foi mais direta.

Nesse instante, ouviu-se um barulho e a mina estremeceu. Os goblins se entreolharam, o livre choramingou não ter seu amigo com ele e o preso pôs-se aos berros tentando abrir a fechadura em seu pé. Num momento de desespero, a criaturinha solta abandonou a sala deixando seu amigo e a Comitiva para trás, correu em direção à saída. Era inútil tentar arrancar alguma informação do outro goblin, tudo que ele dizia era resumido a “Nós bonzinho. Ajuda nós. Eles machuca nós...”. Sem perder tempo, saímos da sala de volta ao corredor.
Um labirinto bem engenhoso, de certa forma, foi aonde o corredor nos levou. Caminhos mal escavados, outros, já com as paredes segmentadas, alguns cheiravam tão mal quanto a entrada da mina. Numa sala, que surgiu à minha esquerda, encontramos mais alguns goblins trabalhando preocupados. Kreev reuniu o grupo antes que eles pudessem nos ver.
- Certo, ouçam bem. – Começou o draconato. A figura de um guerreiro ensandecido como o líder de grupo era algo a ser questionado. Mas eu não tinha bebido o suficiente para isso, nem queria ganhar uns galos a mais. Preferi ouvir seu plano. – Nós nos apresentamos, Bleiner solta as criaturas amarradas e elas nos ajudam a encontrar o artefato.
- Certo. – Gritamos em coro. Quer dizer, a idéia era boa, o que poderia dar errado?

Kreev adentrou a sala. Machado nos ombros, peito estufado. Os goblins olharam preocupados. Atrás dele, a Comitiva se projetou. Áries sem seus mantos, Castiel tampando o nariz, Bleiner e eu olhando o decote da moça. Os goblins sorriram, como se quisessem agradar. Cutuquei Bleiner para ele fazer a sua parte, assim eu tinha aquele decote só para mim... hum... e que decote...
...
...
...
O meio-orc correu na direção do primeiro, que cobriu o rosto pensando que Bleiner iria matá-lo. Rapidamente o monge pegou seus itens de ladinagem e destravou as algemas do primeiro. Ficou claro porque Bleiner fazia aquilo, quero dizer, ele tinha um kit de ladinagem... Para um jovem monge, até que ele é bem esperto.
- Nós somos a Comitiva Escarlate. – Começou Kreev. – Viemos libertá-los, com uma condição.
- Oh... pessoas bonzinhas... ajudam nós. – Disse um dos goblins já solto, tentando sentir o sangue correr em seus braços. – O que querem de nós?
- Preciso que vocês nos mostrem o caminho para o artefato dos Forjados Bélicos. – Kreev foi secamente direto ao ponto.
O goblin engoliu em seco. Parecia nervoso. Nesse instante, Bleiner vacilou e acabou prendendo mais ainda a perna de um dos escravos. A tensão estava presente.
- Rápido! Não temos muito tempo! – Exclamou o draconato de machado nas mãos.
- Tudo bem... Nós ajuda e depois nós vai embora...
- Combinado.
O pequeno ser voltou-se ao corredor e apontou para o caminho certo. Uma grande sala se projetava com uma parede diferente das demais. Um portão que levaria ao artefato. Kreev balbuciou, como se tentasse agradecer. A gratidão não é o forte do draconato, mas mesmo assim, ele sabia que os goblins foram de grande ajuda.

- O-obrigado... – Finalmente disse.
- Hei, espere! E meus amigos?! Vocês vão ajudar nós?!
Olhei para Bleiner e ele estendia os braços num sinal como quem diz “Não vai dar para soltar todos!”. Três goblins ainda ficaram presos.
- Vamos sim. – Eu disse, chamando a atenção do goblin para olhar diretamente a mim. – Mas você já pode ir. Vá!
- Obrigado, moço! Ajudou nós!!
O goblin correu pela saída, sem olhar de volta na sala, onde Bleiner saía deixando o restante dos goblins presos. Um deles ergueu seus braços à distância e eu acenei de volta, sorrindo. Castiel me fitou com ojeriza.

A porta para o artefato era uma enorme placa de um metal claro que eu não sabia dizer. Kreev a tocou, percebendo a superfície extremamente lisa da mesma. Do lado direito a ela, Áries percebeu uma espécie de botão. Entendido de engrenagens e mecanismos, sugeriu que aquele era o meio de abrirmos o portão.
- Este botão é a chave para o artefato. – Disse fitando o mecanismo preso à parede. Uma pequena caixa marrom que jubilava da encosta e que possuía um orifício em seu centro.
- E como... como fazemos para abri-la?
- Oh, simples jovem barda; primeiro, precisamos acionar este botão inserindo algo aqui dentro. A notar o formato desta engenhosidade, diria que um braço de alguém descompromissado funcionaria.
Todos me olharam, com um sorrisinho bobo. Até mesmo Bleiner mantinha um olho em mim e outro no decote de Castiel.
- Nem pelo meu novo bracelete! Enfia o teu! Você não é todo cheio de verdades? – Retruquei encarando o tiefling. Eu não estava disposto a perder um braço, ainda mais agora que eu tinha um bracelete novo...
- Ah... ok! Eu faço isso. Não se pode mais nem brincar agora... – Áries mantinha um sorriso soturno em seu rosto. Seja lá o que ele estava tramando, ele não é o cara ideal do qual você queira como companheiro para “brincar”...
O tiefling enfiou seu braço no dispositivo e logo ouvimos um ranger alto e grave. Lentamente, a pesada porta de metal começou a levantar. A nova sala, que pudemos ver, emitia uma fraca luz vermelha que sibilava em um tom baixinho, bem em seu centro. Adentramos o aposento. Curioso, Bleiner se aproximou da luz. E ela nos atacou.

Como a chama de uma vela que se propaga ao ser assoprada (orra... hoje eu tirei o dia para escrever coisas bonitas...), a luz desapareceu e a sala clareou-se. A nossa frente, estava um ser que não poderia ser humano: era revestido de placas de aço e pedaços de madeira por baixo de suas dobradiças, seus olhos eram duas órbitas vermelhas que emitiam o mesmo brilho cintilante de antes. Ele urrou, como uma engrenagem enferrujada. Bleiner pulou para trás e sem perder tempo, o Forjado Bélico nos atacou.

“Beleza!” – Lembro de pensar alguns instantes. “Ta na hora de eu mostrar uma coisinha nova que aprendi treinando minha psique!” – Como já deve ter ficado claro, sou um aventureiro psíquico. Minha mente é um parque de diversão, e às vezes, sou capaz de moldar a realidade dos outros à minha. Nos últimos dias, havia elevado minha concentração psíquica a um ponto em que eu seria capaz de colocar meus inimigos contra outros inimigos. Era a hora de eu mostrar se meu treinamento deu resultado.

Infelizmente, não.

Quero dizer, além de minha mente, sou movido a beritas. A cana, mé, vinho, cerveja... E eu não bebo de forma decente há três dias, no mínimo! Estava na cara que algo iria dar errado... (Felizmente, eu não fiz meus parceiros atacarem eles mesmos...).

O Forjado investiu contra Bleiner numa explosão de raiva, mas seu golpe foi contido pela bravura de Kreev que o empurrou para trás com seu machado. O meio-orc correu para o flanco esquerdo da criatura de metal. Áries começava a balbuciar palavras de efeito. Eu ainda não podia experimentar minha nova habilidade, pois estávamos a enfrentar somente um forjado. Mas isso logo mudou...
O belo trabalho em equipe de Bleiner e Kreev fizeram o Forjado balançar, como alguém percebe quando está diante de forças maiores. A assistência de Castiel era primordial a manter o grupo em pé. De repente, o Forjado se ajoelhou, emitindo um zunido. Coloquei as mãos nos ouvidos e me virei para Áries, e tudo o que eu vi foi um bruxo voando pela sala. Do seu lado, estava outro Forjado em posição de luta, as placas de metal reluziam no aposento agora claro. Mais dois seres brotaram dos cantos da passagem. Deveriam estar lá desde o inicio, mas esperaram o momento certo para agir.
Kreev foi pego de surpresa por um deles, levando um enorme chute no peito. É impressionante como estes seres, ainda por cima, são atléticos! Bleiner era cercado por dois Forjados. Para ele, era até motivo de festa. Castiel corria em auxílio do bruxo, estatelado no outro canto da sala. No meio do combate, eu estava parado. “Ok... não há mais tempo a perder... a hora é essa. Vou mostrar minhas habilidades psíquicas a este bando de ferro velho!”. Estendi minhas mãos, uma para cada lado. Fechei meus olhos e me concentrei num dos dois Forjados que rondavam Bleiner: “Por muito você foi nosso inimigo... hoje, você é nosso amigo! Traição! Faça de nossa presença o teu motivo em rebelar-se!” – Tirando as palavras bonitas, tudo o que eu faço é, na verdade, entrar na mente de um ser e confundi-lo psicologicamente a ponto de não diferenciar quem é seu aliado ou inimigo. Parece ser uma bela habilidade, mas não saiu como eu queria... Ou eu errei feio ou esses caras não têm cérebros. Eu fiquei lá, parado com meus braços estendidos, enquanto os Forjados atacavam Bleiner, Kreev e Castiel.
Mais uma vez eu me concentrei e mirei outro Forjado, mas em vão. Castiel gritava. Eu redobrei a minha atenção e me concentrei na mente do primeiro alvo, sem sucesso. Kreev esganava seu inimigo. “Mas por Algoron! O que se passa aqui?!” – Perguntei, meio desnorteado. Talvez fosse o fato de eu não estar com meu orbe mágico comigo, ele sempre foi um grande aliado quando eu precisei mostrar minhas habilidades; mas eu não sabia dizer o que acontecia.
Nesse instante, senti uma enorme dor na costas, como se elas estivessem queimando. O chão se aproximou rápido de mais da minha cara. Cai, como um bêbado inconsciente. Um Forjado se aproximou e eu tive que mostrar um velho truque – que por Acmyr funcionou – de telecinesia: empurrei-o alguns metros para trás, deixando-o impressionado. Foi o tempo de levantar e me preparar melhor para seu ataque.

* * *

Ainda estamos sob ataques dos Forjados! Se não fosse nossa força de vontade, eu diria que estamos apanhando feio deles! Essas criaturas são mais resistentes do que pensei! Estou escrevendo essa última mensagem sem ninguém perceber e---...................................

- Eldarion “Ébrio” Finruillas, 
minutos antes de levar uma surra de um Forjado Bélico.

2 comentários:

  1. Caramba, oque vou dizer... ficou simplismente animal o diário, pelo visto a espera valeu a pena.. hehe

    Parabéns ai John, muito bom!! ^^

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  2. Pow, valeu Leo!

    Que bom que gostou. Deu trabalho, mas acho que o resultado final ficou de acordo com o bêbado psion...

    Abrçs

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