5 de agosto de 2010

O Gélido Pesar do Adeus

Anoehin ficou para trás, estendendo seus braços como uma matreira à espera de uma resposta. Uma resposta convincente. Infelizmente, não pude pensar em nada a respeito. Eu era um destemido guerreiro abandonando sua trupe em uma terra hostil.
Lembro-me de olhar para Articus e vê-lo triste e debatido tentando entender porque eu seguia na direção contrária à sua. Os olhos ásperos de Áries me procuravam, mas eu tentava não retorna-lo o olhar. Até mesmo o vapor das narinas de Kreev, agitado e retumbante, era uma terrível tortura para mim.
“Aqui nossos caminhos se separam” – Disse colocando minha mochila de carga nas costas. “A Comitiva Escarlate, para mim, está desfeita”.
A viagem até Lokah não poderia ser mais desgastante. A paisagem não era outra senão um enorme manto branco que cobria o solo e grudava às camadas em minhas botas. O frio era mais um péssimo companheiro de viagem que eu me obrigava a carregar comigo, ao lado do medo, da insatisfação, do arrependimento e da saudade. Depois de dois dias de viagem, eu já não sabia distinguir o dia da noite naquela região de clima intenso.
Já em Lokah, procurei o primeiro barco que me levasse aos Portos de Borar, no Continente de Tubniar. Um anão, bastante alto para um ser com nanismo, era encarregado do controle dos barcos na cidade e sem pestanejar me alocou num barco que saia em direção ao continente de Tubniar. A pequena embarcação mercanteira cheirava a peixe fresco. As ondas batiam com fúria no casco velho do que eu entendi ser “Forte Rapariga”, seu nome em anão.
Recolhi-me num canto a pensar sobre o que eu fiz. Não é de hoje que tento refletir sobre meus feitos, é verdade; os perigos em Anoehin, os sortilégios presenciados nos arquipélagos, as escolhas de Fumaça de Prata, guerra, morte, sangue... Chequei minha mochila ao ver rostos gatunos me observando e percebi algo que não estava ali da ultima vez que a conferi: um pedaço de papel dobrado cilindricamente com um belo laço segurando-o estava entre minhas provisões e roupas de inverno. Abri-o. Havia uma mensagem escrita e assinada por Ceciliana, a maga de nossa Comitiva. Ela fez o certo, a meu ver. A pobre garota tinha caminhos a trilhar que nenhum de nós poderia acompanhá-la. Não sei como ela conseguiu colocar aquela carta em minha mochila, mas espero que esteja bem, aonde quer que esteja...
A recepção em Borar foi tão calorosa quanto um cubo de gelo. A frenética população dos portos, formada na sua maioria de comerciantes e imigrantes, não tinha tempo para perceber quem chegava ou saia do atracadouro. O que eu devia ter agradecido.
Na alfândega de desembarque, meus pertences foram conferidos por uma agente da cidade. A pobre mulher tinha mais pêlos na face do que eu, e se não fossem suas protuberâncias femininas e o jeito suave como falava, podia jurar que eu estava diante de um marinheiro. Com tudo resolvido, a moça ainda acenava para mim enquanto eu me despedia dos Portos, infelizmente, meu coração pertencia à outra dama. 
Dirigi-me ao centro comercial, uma grande praça cercada por casas de madeira e estátuas. Desfiz-me de itens que eu não precisaria mais e que poderiam me assemelhar com o líder da Comitiva Escarlate, muito embora eu creia que este fardo terei que carregar até o além túmulo. Mais um para jogar nas costas já arqueadas de peso e preocupação.
Provisões, mantos, um odre maior e alguns itens de cura pessoal foram tudo o que pude comprar no comércio de Borar. Podem não ser o suficiente para uma longa viagem a pé até Ludwig, mas valeria a pena. Teria que valer.

- Mensagem de Azulth Al’Khalymohr,
encontrada por um viajante na estrada para Ludwig.

Um comentário:

  1. Incrivel como Azulth sempre passa em seus textos a sua dor e melancolia.

    Um ótimo personagem, criado por um ótimo jogador!

    Agora Azulth é mais um componente da historia de Solaris, que apenas enriquece nosso cenário.

    Esperamos um final feliz para o ex-lider da Comitiva.

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