3 de outubro de 2009

Diário de Campanha Ato I: Guerra - 1ª Sessão

hello bold adventurers...

Como vocês já devem saber, nosso grupo de D&D já está jogando nossa mais nova campanha sob o sistema da 4ª Edição. Jogamos pouco até o momento, o tempo tem sido precioso para todos nós, mas já deu para ter boas aparências do novo sistema. E depois de um longo e tenebroso inverno, saiu do forno nosso "Primeiro Diário de Campanha"! A idéia destes diários era relatar as sessões sob o meu ponto de vista, a princípio, obras periódicas escritas por mim e revisadas por nosso mestrante, Diego.
Mas uma nova interpretação deste caso precisou ser feita, à medida que minha vida vai assumindo compromissos em que sufocam meus intervalos de tempo livre. Para isso, pensamos na hipótese de revezarmos os escritores dos diários, a cada sessão, os acontecimentos serão relatados por um herói diferente da Comitiva Escarlate. Isso altera a narração, faz com que não haja tantos diálogos, mas evita problemas futuros entre os jogadores. Não sabemos se vai dar certo, mas de minha parte, estou contente em ver nosso RPG de final de semana assumir uma forma um tanto quanto "profissional", e por agora, fiquem com os relatos de Azulth!
Sem mais demoras, apresento-lhes o Diário de Campanha de nossa primeira sessão, boa leitura!

"Os Caminhos Subterrâneos"

Prefácio
Este é um relato literário narrado pelo ex-major de guerra Azulth à medida que viaja ao lado de sua trupe, a Comitiva Escarlate, ao redor de Solaris. Em uma interpretação do personagem sobre as sessões de nosso RPG, o tiefling aborda seus pontos de vista em suas campanhas enquanto sofre influência do passado que não consegue esquecer e do presente tão difícil de viver. Os acontecimentos descritos aqui se passam logo após o término do Compêndio, postado já no blog.

Lá estávamos nós de volta a Pinus. Aquele céu sempre escuro não deixava dúvidas, para mim, de que a cidade não sabia o que era sol, ou a primavera invadindo os campos ou os frutos doces da colheita que abastece famílias; era tudo cinza e tétrico, embora seu povo não se preocupasse com isso. Pareciam animais, acostumados com a presença de um parasita, ou como um antigo major, acostumado ao seu exílio...
Não opinei sobre o que fazer. Cruzei meus braços e esperei a primeira indignação. Lembro-me de perder em meus pensamentos, como sempre. A Grande Feira de Pinus estava cercada de comerciantes, não havia espaço nem para transitar. Fomos procurar Lorde Bregar, sim, o suposto “lorde”, mas em sua barraca, estava apenas a figura baixa, mas bem vívida de seu lacaio sátiro (estranho ver seres dessa raça hoje em dia...). Não me lembro seu nome agora, mas isso não altera nada também, ele nos disse que Bregar havia seguido à corte de Pinus e rapidamente, partimos para lá. A revolta ainda era grande por parte de muitos os integrantes da Comitiva. De minha parte, ainda havia a repulsa daquele burguês em me usar como mercenário – embora seja isso que eu andei fazendo nos últimos anos...
No castelo, pude constatar o que haviam me dito sobre a corte de Pinus. O Regente não ostenta de um castelo ornamentado a ouro, nem muito chamativo (diferente de outros nobres de Solaris), aquilo mais parecia uma capela. Ao entrarmos, fomos recebidos pelo próprio Lou Devoule, atual governante da Ilha Pinheiro, um pobre velho que me pareceu ter passado a maior parte do seu tempo obedecendo do que mandando; irônico, na minha opinião. Ele fora bem gentil e hospitaleiro com todos do grupo, já que nossos feitos na Cidade do Sul haviam chegado a seus ouvidos. E foi ai que percebi nossa fama: Lou Devoule tinha um pedido para nós. Na verdade, uma missão. Entregou-me um orbe e pediu que levássemos a Altolycus, rei de Donkapon. Era confuso, mas tive pena do pobre homem, caso eu discordasse. Achei melhor obedecer, enquanto calmamente ele nos explicou o motivo.
É bem verdade que vivemos tempos difíceis em Solaris. Há escribas já profetizando o que chamam de “a Segunda Era Fria”. Não sei até que ponto isso deve ser levado em consideração, mas que fenômenos estranhos acontecem todos os dias ao redor do globo, isso ser nenhum discordará. Além do mais, ainda há os anões. Há anos que sigo seus avanços na guerra e parece que chegou a hora de eles derramarem o fogo brando de suas iras contra as outras raças.
Temendo que enfrentássemos exércitos de anões, como na Cidade do Sul, o Regente nos indicou a saída pelos fossos do castelo. Sem perder tempo, retirei-me do aposento seguido do grupo. Por muitas vezes pensei estar vivendo meu passado de novo, o passado que me trouxe tantas desgraças. Tive pena daquele grupo de aventureiros, liderados por um tiefling maltrapilho na Cidade do Sul, embora eu tenha sido preparado para a guerra.
Ao chegar no fosso, rapidamente descemos usando as cordas de amparo fixadas na clarabóia. Não demorou muito e já estávamos no andar inferior ao castelo. O chão ladrilhado e as paredes com ornamentos aqui e ali deixavam dúvidas sobre a construção e utilização daqueles caminhos. A escuridão me fez ascender um de meus bastões solares para iluminar a passagem e a Comitiva, pareceu que eu havia tomado as rédeas do grupo. Constatei uma passagem à direita e sem perder tempo, coloquei-me a correr entre os corredores. As paredes do estreito corredor não eram simples, como pudemos perceber. Haviam pedras trabalhadas, ladrilhos encaixados com perfeição; aquele aparentava ser muito mais do que um mero esgoto do castelo. Kreev, o draconato indagou-me sobre a abstinência de um mapa para a região, foi quando percebi que havíamos esquecido de outro fator também: nossa conversa com Lorde Bregar teria que esperar, enquanto caminhávamos a passos rápidos pelo subterrâneo a serviço do Regente. Tentei conter a angustia do grupo, mas mal conseguia conter a minha própria.
O corredor tinha uma porta à direita. Pequena e feita de madeira, Kreev a abriu e eu a iluminei. Era uma pequena sala; porém, ao tornar o local mais claro, ouvi um rosnar, e duas pequenas criaturas de lanças nas mãos correram na minha direção, fui pego de surpresa. Impressionante a gana que elas tinham, pois miravam seus ataques somente em mim, provavelmente por estar iluminando o local, mas fora Kreev quem explodiu em ódio, investindo contra os dois kobolds. A fúria do draconato me fez perceber o quanto ele era um guerreiro valoroso. Ao checarmos a sala, percebemos que não havia nada de útil nela, provavelmente kobolds rondavam estes caminhos pois lhes serviam de abrigos. De volta ao corredor, chegamos a outra sala à esquerda. Abri a porta e fui surpreendido por mais um ataque de kobolds. Lá estava eu, o antigo major de um exército sendo pego de surpresa até mesmo por pragas do campo. Um confronto e tanto, devo dizer. Kreev me ajudava, mas sofria tantas escoriações quanto eu. Elowyn não tinha espaço para preparar seu arco e os arcanos ajudavam no que podiam. Preocupado com uma possível estratégia, abaixei minha guarda por um instante e num rápido pulo de um dos kobolds, uma de suas alabardas fincou-se em meu peito. Aquilo doeu. Arranquei a haste do infeliz com as mãos e logo comecei a sentir minha pulsação aumentar freneticamente, enquanto ela abafava as vozes dos outros. A última coisa que me lembro de ouvir foi o estalo, à distância, da lâmina de minha espada contra o chão. Cai. Não sei por quanto tempo desmaiei.
Quando acordei, os kobolds já estavam liquidados. Provavelmente Kreev. Não quis perguntar para proteger meu estúpido ego. Aliás, não falei nada. Levantei, sacudi a poeira de minhas vestimentas e percebi um rombo em minha túnica. Com sorte, não passava da cota de malha. Eu não estava em perfeitas condições, mas podia pelo menos andar, e, claro, lembrar de meu passado. Parece que este fardo eu terei que carregar até mesmo no além-túmulo...
Continuamos a seguir pelo corredor até desembocarmos numa bifurcação. Ao acaso, seguimos o caminho da direita. O estreito corredor nos levou a uma sala pequena, havia uma alavanca fixada na parede. Ceciliana, a maga, puxou-a. Eu não ouvi barulho algum. Dei meia volta e comecei a voltar à bifurcação. O segundo caminho tinha uma sala à direita, ao entrar, percebi que não havia nada no aposento, apenas lama compactada no fundo da sala. Por sorte, o corredor continuava a oeste. O tal corredor acabou por nos levar em um grande salão. Havia pilares em seu centro, mas como todo o subterrâneo, era mal iluminado. Ao pisar no salão, pude ouvir um barulho, e mais kobolds saíram por detrás dos pilares vindo em nossas direções. O ódio já tomava conta de meu corpo. Eles tiveram a chance de me matar, eu não dar-lhes-ia outra. Brandi minha espada e segui em direção a eles. Kreev me ajudou, pareceu feliz ao ver o sangue negro das criaturas jorrar em seu rosto. Ah sim, o sangue. Como era belo vê-los agonizando e esguichando seus fluidos vitais... Acho que o bruxo compartilha do mesmo gosto que o meu, pois ele também se empolgava à medida que acertava suas magias nas criaturas fazendo-as sangrar. Ceciliana causava os maiores estragos. A turba fora vencida e todos comemoraram. Coloquei a mão em meu peito e voltei a lembrar de meu passado. Vivê-lo ao invés do presente já estava virando uma síndrome para mim, mas eu não conseguia evitar. Até mesmo hoje...
O fundo do salão tinha duas grandes portas, mas que estavam trancadas, como Kreev constatou. Impossível abri-las a força. Até que a ladra trouxe uma inspiração: lembrou da alavanca fixada na outra sala e na hipótese de ela ter um mecanismo para abrir os grandes portes do salão. Não quis voltar aos corredores, além do mais, haviam aqueles que estavam em perfeitas condições para outros combates. Recuei. E acabaram por voltar aos caminhos as duas elladrins e Áries, o tiefling bruxo. Pude repousar. Na sala estavam apenas o draconato e a elfa patrulheira além de mim. Claro, nosso troféu também estava: os pertences dos kobolds mortos no salão. Encostei numa pedra enquanto via os dois fazerem o mesmo. Fechei meus olheis e repousei, perdido em meus pensamentos. Os grandes feitos do passado cruzavam-se com as duras derrotas nas batalhas de tempos distantes. Eu sou o arquiteto de minha própria destruição precoce.

Desmembrei-me de meu passado com o barulho dos pesados portões abrindo-se. Kreev parecia contente, junto de Elowyn. Não sei como eles fizeram isso, mas eis que surgiu de volta ao salão a figura da maga, do bruxo e da ladina.
Atravessamos os portões a andar em mais um corredor. Uma forte luz começava a surgir no que parecia ser o final dos caminhos subterrâneos. Ficou claro para mim que aquelas passagens tinham história a contar. De fato, são de um passado remoto, do qual os humanos parecem não mais se lembrar. Espero que aprendam com seus erros tanto quanto eu...
A luz cinzenta e sem vida era o sinal mórbido de que ainda estávamos na Ilha Pinheiro, mas pelo menos fora da cidade de Pinus. Precisávamos descer até as encostas, onde fica o porto da Ilha. Sem delongas, começamos a descer, haviam casas construídas nas encostas das colinas, mas não quis visitá-las. Meu gesto foi seguido pelos demais. Depois de uma pequena caminhada em declive, chegamos ao porto da Ilha. Não havia muitos barcos ancorados, muito menos guardas, como eu pude constatar, a não ser uma figura de baixo porte que correu em nossa direção. Um anão. Seu nome era Tordek e ele disse-nos que era um servo de Lou Devoule. Um piadista. Criava casos com Fumaça de Prata e Kreev, mas não me pareceu ser mal, como seus primos distantes do norte; além do mais, ele tinha um barco e seria mais um martelo a se juntar ao grupo. Sem mais perder temo, partimos com destino aos portos de Borar.


Já está de noite - se a neblina me deixasse ver a lua no céu teria mais certeza - e o barco de Tordek já partiu cortando os mares de Solaris. O anão pilota o barco enquanto vai cantando um cântico que me faz lembrar ritmos de guerra. Não me importo muito com isso, mas é bom sempre ter sua espada por perto em situações assim. A Comitiva vai se ajeitando para dormir, o que eu também preciso fazer.
Aqui eu encerro meus relatos por enquanto. Uma longa noite de sono é o que eu preciso para descansar meus ossos, mas principalmente, minha mente.


Azulth Al'Khalymohr

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