4 de setembro de 2009

Compêndio ao Diário de Campanha

hello bold adventurers...

Nosso grupo de D&D já está jogando a nova campanha sob o sistema 4.0, embora até agora só tivemos elaborado apenas uma sessão. Porém, antes mesmo de publicar o Diário de Campanha da primeira sessão, é preciso saber alguns detalhes não revelados no jogo. Montamos uma trama com nossos heróis já em grupo, com um propósito. Mas qual seria este propósito? E as informações ao seu redor? Background? Motivos para estarem juntos?

Para responder estas perguntas, se fez necessário a criação de um compêndio. Um texto introdutório aos futuros Diários de Campanha. Visando o grupo como um todo, escrevi este texto de 16 páginas (arquivo do Word) para tentar florir algumas idéias aos jogadores e prepará-los para a primeira sessão. O resultado você confere agora! E aguerdem em breve a publicação do primeiro Diário!

O Berço Sujo do Nascimento da Comitiva Escarlate

Texto: John Viking/Troll
Revisão: Diego Feijó


"Caminhos Molhados de Água e Sangue"
Os corvos voavam baixo enquanto a fina neve caia na floresta. As copas das árvores eram grandes, e raramente deixavam os flocos tocarem no chão. “Irá chover hoje...” – Pensou Elowyn, parada numa clareira da floresta em companhia dos rasantes corvos. Já fazia cinco anos que o clima em Solaris havia mudado bruscamente, calor intenso nos picos antes gélidos e neve em climas subtropicais eram vistos quase sempre como uma forma de desapontamento dos deuses com seus devotos. Elowyn sentou-se no solo da floresta, ele ainda estava quente. “Realmente irá chover hoje...” – pensou enquanto tateava o chão. Sua rotina, enquanto patrulheira era simples e objetiva, fator que fazia com que ela gostasse do serviço, “Além do mais, onde eu poderia ficar tão próxima da natureza se não aqui?” – sorria a elfa debruçada em seu arco.
Seu descanso durou pouco, porém. Seus ouvidos sempre em alerta, lhe informaram que havia mais alguém caminhando na floresta. Rapidamente ela saltou do solo já frio e procurou alguma árvore larga para se esconder. Na clareira surgira um tiefling, com uma enorme espada presa à cintura, ele parou para observar o ambiente. Elowyn sacou uma flecha de sua aljava e analisou o ser com o arco preparado, ele estava agachado, parecia furoar o solo. “Vai chover...” – Ele disse se levantando. Elowyn assustou-se com a astúcia do tiefling.
- Alto! – Gritou ela saindo de trás da grossa castanheira com o arco na mira.
O tiefling apenas apoiou sua mão esquerda sob o cabo de sua longa espada sem demonstrar nenhum humor em seu semblante.
- O que faz aqui? – Perguntava a elfa sem hesitar.
- Sua postura parece um tanto quanto errônea, madame. – Disse o tiefling sem sair do lugar – E se não fosse este alfanje preso em seu cinto, iria julgar que você é apenas uma criança a caçar quatis...
- Audácia! – Ela puxou seu arco para trás – Quero ver o que me diz de minha postura, depois de eu acertar sua cara!
- Tal cena não será necessária de ser elaborada. Não tenho compromissos com você. Mas ficaria grato se me dissesse onde fica o monastério da Floresta da Neblina.
- Ah, agora me toma como uma patrulheira, tiefling? – Ela disse abaixando seu arco. – O monastério fica a oeste, a alguns minutos de caminhada daqui. Mas não sei quais são seus compromissos com os sacerdotes da Floresta. Posso saber o que o trás aqui?
O tiefling permaneceu imóvel, com sua mão esquerda apoiada no cabo de sua espada. Abaixou seus olhos por um momento e os ergueu novamente.
- Descubra por você mesmo...
- Mas é difícil de dialogar com você, hein criatura? – Ela virou-se de costa para ele pondo as mãos na cintura. Não sabia se sorria ou demonstrava raiva. Ele era frio de mais para que ela pudesse perceber algo.
O tiefling pôs-se a andar, passou a seu lado com a mão sob a espada ainda. A passos rápidos ele seguia a oeste.
- Hei! Ainda não acabei com você! – Disse começando a segui-lo.
No monastério, ela soube que seu nome era Azulth, e que ele havia sido contratado para servir favores aos sacerdotes do templo. Sua missão era ordinária: caçar uma turba de orcs que assolavam as redondezas do sacro templo.
- Espere, se você está pretendo caçar orcs, devo lhe informar que estes seres não são mais um perigo, meu caro. – Dizia a elfa enquanto via-o preparar sua mochila. – Quero dizer, embora estes seres a muito vagam pelas terras do monastério, eu já os eliminei. – Disse sorrindo com um ar de trabalho bem feito. O tiefling continuava sua atenção à mochila – Er... os corpos estão há alguns metros daqui, numa pilhagem...
- Ração, balas de funda, corda... – Azulth arrumava sua mochila em voz baixa. - Está me ouvindo, criatura!? – Ela berrou. Seu grito ecoou as paredes do sacro templo. O tiefling olhou-a com desdém. – Pelos deuses, homem! És uma porta de tão vívido! – Ela arrumava o cabelo enquanto esbofava, seu grito havia confirmado uma coisa sobre o tiefling: ele não era altista. – Olha, me desculpe se passei dos limites. Bom, sou uma patrulheira – ela fez uma pausa, viu que ele voltava a arrumar sua mochila. – E posso te mostrar o caminho até a pilha dos corpos...
- Irei precisar de óleo... – Ele disse olhando em volta.
Antes que ela pudesse até mesmo berrar, Azulth continuou:
- Me mostre o caminho. E nenhuma pergunta até lá.
- Você é assim o tempo inteiro ou isso é algum tipo de charme?
- Eu disse, sem perguntas até lá, elfa.
Ela colocou as mãos na cintura novamente. Fez um trejeito com a boca e balançou a cabeça como em acordo com as palavras do tiefling.
- Ainda irei precisar do óleo, mas ele pode esperar até a minha recompensa.

Caminharam algumas milhas em pleno silêncio, vez ou outra ouviam o grasnar dos corvos e o barulho de cervos comendo frutas. A neve já havia esvaecido e o céu começava a ficar escuro. Olhando para cima, os dois disseram ao mesmo tempo:
- Vai chover...
Entreolharam-se. Ela riu, ele parecia não saber o que era isso, ela alterou seu humor novamente, ele permaneceu imparcial. Mais alguns metros e Elowyn apontou para uma trilha. “Ela leva à pilha de corpos” – disse olhando para Azulth. De repente, ouviram um som agudo vir da direção da trilha. O som era diferente dos chiados da floresta e foi seguido por uma espécie de cântico grave misturado a uma marcha. Azulth pôs a mão direita sob o cabo de sua espada temendo o pior. “Anões? Em plena floresta!?” – pensou ele em guarda. A elfa agachou-se em surpresa.
- Isso não é nenhum animal. Tão pouco os orcs fazem esse barulho. – Disse olhando para o tiefling postado em pé com a mão na espada. – Abaixe-se, homem! O que há com você!?
- Quieta. – Ele disse roucamente. – São anões.
- Aqui? Em plena floresta? – Ela estava atônita. Azulth esticou o pescoço tentando pegar alguém atrás da mata fechada em que a trilha seguia. Sem sucesso, se agachou.
- Não faça nenhum movimento em falso, elfa. Eles podem ser pequenos, mas as empunhaduras de seus machados são como uma extensão de seus braços.
- Por quem me tomas, uma menina? Eu sei o quanto eles são emproados, mas não os esperava por aqui!
Azulth olhou novamente para a trilha.
- Eu tenho um plano. E você faz parte dele. – Olhou-a com um semblante psicótico. Elowyn retrucou o olhar assustada.
- Mas que tipo de sortilégio você quer fazer comigo!? – Gritou fitando-o horrorizada.
O cântico parou. Até mesmo os corvos haviam parado seus grasnados. De repente, algo passou entre os dois, indo encontrar uma árvore há poucos metros atrás deles. Um machado ornamentado com um cabo trabalhado, eles puderam observar. “Huarrrr!!!!” - Ecoou de trás da mata fechada e um berro agudo de Elowyn veio em resposta.
- Rápido! De pé! – Gritou o tiefling desembainhando sua espada grande.
Um raio cortou os céus escurecidos, seguido de um trovão. Era como um gongo que anunciasse o primeiro assalto da contenda. Cortando os galhos como uma retro-escavadeira, estavam dois anões abrindo o caminho entre os galhos. Atrás, vinham três anões com elmos cinzentos e pequenas aberturas para os olhos, suas barbas quase podiam encostar-se ao chão e eles traziam pequenos machados de arremesso prontos para o ataque. Ao verem o tiefling brandindo sua arma, seguiram em sua direção e Azulth pôde ver mais dois anões com grandes machados de duas lâminas saírem de dentro do mato. A chuva deu seu ar da graça, enquanto o tiefling brandia sua enorme espada com ambas as mãos “Maldição!” – Pensou ele num rápido momento. Correu em direção de um dos mais barbudos, mal deixou ele preparar o arremesso e o tiefling já havia atacado seu braço, decepando-o, o que deixou os outros retrógrados mais possessos. Um segundo arremessador lhe aproximou pelo flanco esquerdo, em resposta, Azulth esquivou. Fazia bom uso de sua calda também, derrubando o agressor ao chão molhado pela enxurrada num segundo contra-ataque. O terceiro se aproximou mas não conseguiu acertar o tiefling, fora imobilizado por um tiro certeiro do arco de Elowyn.
- Mantenha os pés afastados! – Dizia o tiefling apontando para os pés da elfa e se esquivando de mais um ataque do segundo anão.
- Isso não é hora para lições, homem! – Puxou outra flecha que acertou em cheio as costas do segundo anão. – Meus tiros, mal posicionados ou não, são certeiros! – Dizia tirando os cabelos molhados do rosto.
Aproximaram-se os dois guerreiros com imponentes machados, atrás deles, ficaram as “retro-escavadeiras”. Atacaram em ambos os flancos do tiefling, ele deu um passe para trás, retomando o fôlego. Num rápido movimento, atacou o joelho do primeiro, girando ao seu lado e posicionando-se de costas para ele, sua espada atravessou-lhe as costas mal protegidas, a lâmina fora vista do outro lado, quase intacta pela cota de malha do anão. Num berro, o segundo tentou uma investida, Azulth rolou para o lado acionando sua calda, mas o anão atlético soube manobrar em tempo e evitar um escorregão.
- Será que você é tão boa em combate corpo-a-corpo quanto à distância?
- Isso depende de como você vai avaliar minha postura! – Ela disse correndo em direção à batalha sacando seu alfanje da cintura.A chuva caia forte e estalava nas armaduras de ferro dos anões. Sem preparo para defender dois atacantes, quando o glutão defendia-se da elfa, era lesionado pelo tiefling e vice-versa.
Morreu em um ataque junto dos dois, encontrando suas lâminas no pescoço do guerreiro. Sua barba tingiu-se de vermelho que a chuva não conseguia lavar.
Os abre-caminhos olharam um para o outro e brandiram seus pequenos machados sem muito fio prejudicados pelos galhos da floresta. Elowyn teve o prazer de matar os dois sem esforço. Ainda restava um. Um medíocre anão sem um braço ajoelhado de dor numa poça d’água. Ele tentou procurar seu machado, em vão. Azulth se aproximou, balbuciou algumas palavras incompreensíveis para a elfa. Maior foi seu espanto em ver o pequeno ser retrucar algo no mesmo tom. Sem o sucesso que esperava, o tiefling ergueu sua imponente espada e essa foi repousar no crânio do anão, mesmo com seu elmo. Outro raio caiu, como um juiz avalia o final de uma luta. A chuva havia passado, levando consigo a raiva explosiva dos anões.
- O que foi aquilo que você disse, Azulth? – Perguntou a elfa guardando sua arma. Seu rosto ainda estava vermelho pelo esforço da batalha.
- Eles não lutam por uma causa. São marionetes de um show de horrores. – Dizia enquanto tirava sua espada alojada no crânio do anão. – Precisamos ver os clérigos. Rápido!

Seguiram o caminho de volta ao monastério. Lá chegando, perguntaram aos sacerdotes se eles sabiam da marcha dos anões. Porém não obtiveram respostas concretas. “Contudo, há um lorde muito nobre que geralmente cede seus tecidos para nosso monastério, ele sabe muito sobre os pequenos anões, tenho certeza que ele poderá ajudar vocês” – Disse um dos sacerdotes com total calma e controle da voz. “Vocês são de estimável ajuda para nós, por favor, fiquem esta noite conosco”. Foram informados ainda que o Lorde Bregar poderia ser encontrado no reino de Donkapon. Antes de repousarem, ainda foram recompensados com o óleo tão estimado pelo tiefling e imbuídos num galão de água morna.

Elowyn acordou com os raios de sol já invadindo o quarto onde estava. De pé, ao vê-la acordada, Azulth jogou-lhe uma mochila.
- Será mais seguro se andarmos juntos. Vamos, prepare suas coisas.
- Ora, ora... – disse a elfa ainda tentando acostumar os olhos com a claridade do dia – Não era você quem não parecia querer a companhia de ninguém?
- Não quero sua companhia. Quero a companhia de seu arco e alfanje, embora, para isso, eu tenha que levar você comigo. Isso se você conseguir se desprender desta floresta.
Ela riu novamente, mas recebera mais uma cara sem expressão em resposta do tiefling. Levantou e foi se lavar. Arrumou suas roupas, checou suas flechas, arco, alfanje e deu uma penteada no cabelo loiro e liso.
- Eu sei o caminho até o Reino de Donkapon. Levará dois dias se caminharmos a passos rápidos. – Disse o tiefling checando seus equipamentos. – Preciso saber mais sobre os ataques dos anões.
- Bom, eu sei que todo o nosso continente está sofrendo ataques de tropas enfurecidas de anões, mas difícil saber o motivo.
- Não espere encontrar esta resposta no Reino dos Ladrões...
- Ainda não consegui me apresentar para você. Meu nome é Elowyn, patrulheira da Floresta da Neblina. Embora isso agora seja mero detalhe. – disse sorrindo e lhe estendendo a mão. O tiefling deu de ombros e começou a andar à saída do monastério. – É... quando ele irá aprender o valor da amizade? – pensou colocando a mão na cintura vendo-o andar despreocupado.

"Os Multiplos Propósitos de Apenas um Pedido"
O sol estava forte, era inverno em pleno continente sul e os raios solares ardiam na pele. Não havia geleira que poderia resistir àquele fenômeno anormal. Atravessando as planícies, estavam as figuras intrépidas do tiefling e da elfa. Cada tentativa de pergunta de Elowyn sobre as frases ditas por Azulth ao anão eram como palavras ao vento. A postura sempre desinibida do tiefling era algo que ela não sabia se gostava ou odiava. De pouco papo, ele pelo menos sabia o caminho mais rápido até o reino, chegaram antes do pôr-do-sol.
- Reino de Donkapon... Cidade de luxo e pobreza... – Dizia o tiefling à beira dos portões fechados da cidade.
- Não parece haver sentinelas nas guaritas... O que há com essa cidade?
- O que mais você pode esperar de uma aristocracia de ladrões?
Azulth bateu as pesadas maçanetas de aço fixadas aos portões castanhos da cidade. O som de madeira e metal estremeceu o chão e uma sentinela surgiu na torre de observação.
- Pedimos a permissão para adentrar em vossa cidade, da qual o mercado pulsa e a moeda vibra. – Disse Azulth à sentinela.
- São mercanteiros?
- Temos assuntos a tratar com Lorde Bregar. – Disse Elowyn.
A sentinela parou um instante.
- Certo, eu abrirei os portões.
- Houve um tempo em que esta cidade tinha mais a oferecer. Épocas em que seus portões eram fechados ao pôr-do-sol e ser nenhum conseguia passar por estas portas...
Elowyn prestava atenção admirada ao que o tiefling contava. Ele parecia saber o que falava e pelo menos ele não estava mais tão vívido quanto uma porta...
Os portões se abriram e eles entraram. Elowyn viu um centro comercial pequeno, mas muito movimentado. Vendedores e fregueses, de todas as raças e tamanhos faziam suas pechinchas e acordos. Perguntaram a um sátiro artesão se ele conhecia Lorde Bregar, e o pequeno humanóide apontou para um homem gordo, de bigodes levantados e bochechas rosadas. Ele estava de pé em frente a uma bancada de tecidos e tapeçarias das mais variadas cores e formas. Apresentaram-se, e relataram o fato na Floresta da Neblina.
- Oh, sim. Eu sei algo sobre esses ataques dos anões. – Dizia o homem batendo palmas enquanto tentava chamar fregueses – E sei o que eles querem... – Disse agora de soslaio aos dois, parados no canto da barraca. – Sabe, eu estou precisando de novos ares. O comércio de Donkapon está me deixando enjoado... Preciso de coisas maiores! Mais competitivas! Preciso levar minha loja até a Cidade de Pinus, na Ilha Pinheiro.
- Mas e quanto aos ataques dos anões?
- Ora, bela elfa. Eu sou um vendedor. Não um informante. Vocês me ajudem a carregar minhas coisas até a Cidade de Pinus, e no caminho eu posso contar uma coisa ou outra pra vocês. – Ele ria batendo palmas.
- O que você acha, Azulth?
- Tanto faz. Se esse é o único motivo, vamos acabar logo com isso.
- Ora, mas você é mesmo um cabeça-dura, no fim das contas... – Disse colocando as mãos na cintura. O Lorde riu. Azulth permaneceu igual.
Começaram a desmontar as barracas. A maior parte das estruturas e produtos eram carregadas pelo Lorde e por Breda, seu pônei de carga. Aos dois, limitavam-se apenas um tapete ou uma malha, fáceis de carregar em uma das mãos apenas.O Lorde informou que há meses tenta mudar seu comércio para o reino de Pinus. Mas nunca conseguiu, graças ao fato de não ter uma boa escolta. Disse ainda que pagaria aos dois por tal trabalho quando chegassem na Ilha Pinheiro e que agora se sentia mais protegido. Nada fora dito sobre as investidas dos anões à saída da cidade. Passaram a noite no campo, e em torno da fogueira as únicas histórias do Lorde eram sobre como ele havia conseguido o incrível feito de flertar com três raparigas ao mesmo tempo. Fatos que enojavam Elowyn, e não acrescentavam em nada ao tiefling.

A viajem era longa, levaria uma semana andando e mais uma tarde de transporte marítimo até a Ilha. No caminho, depararam-se com as montanhas do sul radiando um lindo amanhecer em suas encostas. Eles teriam que atravessa-las. Breda foi quem melhor se saiu na tarefa, era o motor para puxar os três entre as ravinas e picos das montanhas. Atravessaram-nas, deparando com uma linda vista de praticamente todo o continente do alto de seu cume. Mas um odor estranho atrapalhava a contemplação da vista. Insetos passavam próximos e o zumbido de moscas era constante. Começaram a olhar para os lados, e perceberam um corpo jazendo no topo da colina. Sua estatura pequena, e sua barba – embora esta tenha sido cortada bruscamente – não deixava dúvidas de que aquele era um anão. Os três se assustaram. Azulth já passava a mão no cabo de sua espada enquanto o Lorde se apegava a seu pônei. Elowyn achou outro corpo mais a frente. Estava com um elmo, diferente dos vistos na Floresta da Neblina pelos dois e parecia ter seus dentes quebrados. O cheiro de podridão levou-os a mais dois corpos pequenos e robustos. Mas era difícil saber se eram anões. Estavam completamente desfigurados e mais pareciam um monte de massa e pó para um ritual. Em meio a esta cena sórdida, perceberam uma figura sentada de forma tosca, de costas para eles, ao seu lado, ele parecia haver fixado um estandarte feito das lanças dos anões e o pano tremulante era o que já foi um pedaço de barba trançada e escorrida...
- Ao meu pai eu dedico este momento, nossa luz maior. – Dizia a criatura sem parecer notar os três. – Que este estandarte seja teu escudo, que este baluarte, a tua couraça e este seu servo, teu machado. – Sua voz era fina e ao mesmo tempo grunhida. Ele se levantou e foi em direção aos anões mutilados. Não parecia se importar com a presença dos expectadores de seu culto, enquanto eles puderam perceber um ser de pele vermelha e rosto reptiliano. Passou seus dedos grandes no sangue que jorrava do crânio de um dos anões, e o esfregou em seu corpo – Que este sangue seja a prova de meu corpo-fechado perante as impurezas dos pagãos, meu pai! Que assim seja! – Disse abraçando a si mesmo e gemendo e grunhindo.
- Bravo, bravo! – Disse o Lorde batendo palmas – Fantástico! És o melhor artista que eu já vi! Hoho...
O draconato parecia ter saído de seu transe virando seus olhos com grandes íris para os três.
- O que fazem aqui? – Disse com sua voz aguda e sua língua bifurcada saindo de sua boca. – Meu pai os mandou aqui?
- Foi você que fez isso com os anões? Pelos deuses, eu não via tanta fúria nem nos tempos dos bárbaros! – Disse Elowyn atônita.
- São pagãos! Pagãos que não aceitaram meu Pai como sua fonte interior! Mereciam a morte! – Dizia gesticulando com as mãos o possível jeito de como ele havia os matado um por um. - Há! Sua ira contra os anões é justamente o que precisávamos! Diga-me meu rapaz... Quer dizer, meu lagarto... Ou seja lá como é seu nome, não gostaria de trabalhar para mim? Posso lhe recompensar por seus serviços. – Disse o Lorde esticando seu bigode. Azulth e Elowyn se entreolharam e pela primeira vez, ambos acertaram a expressão: Perplexos.
- Vocês acreditam em meu Pai? – perguntou o draconato ainda desconfiado.
- Mas é claro que sim meu filho... Um filho bem estranho, mas enfim, é provável que você encontre mais anões se vier conosco, para... Batizar seria o termo certo? – O Lorde ria. E Azulth o fitou.
- Há! Como meu pai é bondoso! Ele tudo me dá! Irei ter o prazer de lhe acompanhar – O draconato parecia ter classe ao falar – Será ótimo expurgar os anões deste continente! – ele riu, de forma tosca e bem alta. O Lorde fez o mesmo, na tentativa de parecer amigável. Elowyn se aproximou de Breda enquanto Azulth ainda mantinha sua mão direita sob a empunhadura de sua espada.
- Diga-me, meu homem... Err, lagarto... Qual é mesmo seu nome?
- Sou o filho do todo poderoso Jhakar Neo-Drako... Abençoado pelo sangue de meu pai, carrego suas cicatrizes comigo! Kreev é meu nome. E pregar a palavra de meu pai é meu dever.
- Jhakar Neo-Drako? Pelos deuses, temos um visionário na escolta... – Desanimou-se Elowyn a olhar para um Azulth sem expressões.
- Kreev, há! Lindo nome, meu filho...
- Não sou seu filho, burguês! – O draconato pegou seu machado e parecia querer partir para cima do Lorde, irritado com suas palavras. – Mas posso seguir vocês como um bom ajudante... – Ele sorriu toscamente, fazendo sua língua bifurcada sair e entrar de sua boca.
- Err... bom, então acho que podemos descer dessas montanhas, não? Ajudem-me aqui, tenho muito peso para carregar.
Kreev e Azulth se entreolharam algumas vezes, mas ambos não se falaram. Azulth não dava a mínima para o draconato, embora quisesse vê-lo por perto e Kreev não via a hora de botar suas garras naquele gorducho vendedor. Elowyn agora tinha mais uma companhia para um ótimo bate-papo...

Dois dias de viajem sob um sol escaldante, e os quatro chegaram ao Porto de Borar. Elowyn pouco falava com Azulth, muito menos com Kreev, evitava o Lorde para não ter que ouvir seus flertes sujos em cima dela, sua melhor companhia nessas horas era o pônei Breda. Ao chegarem, perceberam toda a movimentação constante de pessoas nas docas do porto. Caixas e mais caixas era empilhadas, trabalhadores de todas as raças possíveis faziam do Porto um lugar quase caótico e o cheiro de peixe podre sob o sol há meses era um convite à maresia. Sem perder tempo, trataram de ir logo ao serviço de taxa de viagens. Lorde Bregar tratou de arrumar tudo, conhecia os melhores barcos e comandantes do Porto. Porém, quando fora puxar sua algibeira, percebeu que havia uma segunda mão em seu bolso. “Mas o que é isso!?” – Indagou o Lorde. Havia uma jovem elladrin agachada quase embaixo da figura grande do Lorde Bregar com a mão dentro de seu bolso. Kreev levantou seu machado e Elowyn também ficou de prontidão. A jovem ladina levantou-se erguendo as mãos.
- Ok, ok. Eu me rendo. Droga, aquele livro de ladinagens deveria ter uns exemplos mais práticos! – Disse a jovem cruzando os braços.
- Saia daqui, insipiente. E poupe-nos de sua estupidez. – Disse Azulth olhando-a friamente.
- Bolas! Foi por pouco! Por isso aqui vocês não iam me ver. – Gesticulava a elladrin.
- Mas o que você quer, minha jovem? – Perguntou o Lorde certificando-se que sua algibeira realmente estava em seu bolso.
- Ah, eu sou horrível... Olhem só para mim! Tenham pena de mim. Sou uma iniciante nos crimes... Mas mal consigo afanar um velho gordo... – Disse a ladina pondo-se aos prantos.
- Eu devia arrancar suas entranhas por causa disso!
- Não será necessário, Kreev. Diga-me minha jovem, o que você espera da vida?
- Ai, eu sou uma fraude! Sou uma pobre ladina órfã sem sustentos... – Dizia enxugando as lágrimas. – Não espero nada da vida.
- Aceita meu Pai como sua fonte de luz interior?
- Não, Kreev! Deixe-me falar com ela. Diga-me, minha jovem, gostaria de ganhar uma renda extra?
- Oh, nobre senhor, mas é claro que sim! – Suas lágrimas já haviam sumido de seu rosto e nem sujo ele estava mais. – O que eu posso fazer por meus amigos?
- Fácil! Trabalhe para mim! Eu preciso de um informante nessa escolta. E você parece ser a pessoa certa. Hoho...
- Hum... Eu não sei muito bem o que um informante faz... Mas eu aceito! Quando é que eu recebo?
- Hoho, paciência, minha cara. Primeiro, precisamos ir para a Cidade de Pinus, depois, acertamos os valores.
- Oh, muito obrigada nobre gorducho! Você é como o pai que eu nunca tive!
- Gorducho é o seu passado.
- Será que podemos saber ao menos o seu nome?
- Podem me chamar de... “Fumaça de Prata” – Disse estufando o peito. Seu rosto olhava o horizonte e ela parecia certa do que falava.
- Já chega, são loucos de mais para mim... – Disse Azulth dando as costas.
- Haha, belo nome, minha jovem. Fumaça de Prata... Haha, oh! Nosso barco já está para partir! Rápido! Vamos andando!

"Viajem ao centro do Mundo"

A escolta saltou no barco rapidamente e ele seguiu para a Ilha Pinheiro. Azulth já estava irritado com aquela situação. Brincadeiras demais e fatos de menos. A mesma opinião era dividida por Kreev, que não via a hora pegar o mercanteiro e sua nova informante de jeito. Elowyn ao menos tinha uma nova companhia feminina para tentar conversar.
O barco seguia vagarosamente pelo Mar Celedwyn. Sua tripulação era na maioria de humanos, embora houvessem halflings e tieflings abordos, além do grupo de Lorde Bregar. O comerciante seguiu viagem relatando seus fatos de como iniciou-se no ramo das tapeçarias, embora mal fazia Fumaça de Prata prestar atenção nele.
- As peças de cobre são como anãos, ninguém as quer por perto por causa de seu valor, até que você dê a elas mais uma dúzia de seus parentes. – Dizia o Lorde rindo fazendo sua barriga balançar. Elowyn estava ficando mareada. O tiefling já não agüentando mais os relatos pífios do nobre, indagou-lhe:
- Quando você dirá algo de útil, “Lorde”? – Disse se levantando, fazendo Kreev confirmar suas palavras num gesto com a cabeça.
- Ora, meus contos não são apropriados para você, mestre tiefling?
- Seus contos eu posso ler em livros. Quero saber o que podes me avisar sobre os ataques dos anões em Tubniar. Se é que já presenciou algo... – Disse botando sua mão esquerda sob o cabo de sua espada.
- Há! Gostei dessa! – Kreev saltou com machado na mão, em pleno barco. – Onde irá chegar à parte dos anões, burguês?
Lorde Bregar estava atônito, seu bigode antes levantado vitorinamente, agora parecia ter caído, trazendo um semblante de espanto em sua fronte.
- Ora, mas por quem me tomam? Um aventureiro em busca de riquezas? Sou um comerciante, vivo de meus produtos...
- Não fuja do assunto, Lorde – Elowyn se intrometeu, estava de pé entre os dois guarda-costas.
- Minha jovem, o que quero dizer é que, embora eu tenha passado minha vida inteira como um bom mercador, eu realmente presenciei ataques bárbaros de anões neste continente, de uns tempos para cá.
- Não parece ser o bastante, até mesmo seu pônei poderia nos relator isso – Largou Kreev com sua língua bifurcada.
O Lorde parou um instante. Olhou para os lados, como um advogado de defesa buscava uma contestação aos fatos alegados numa lide.
- Meus queridos – Ele disse depois de um intervalo – Haverá a hora certa para vocês saberem, além do mais, este barco não é bem apropriado... – disse-lhes de canto de boca enquanto olhava para os lados. – Irei falar com o comandante para saber nossa posição.
Rapidamente ele seguiu à cabine de controle, antes que um dos três, ou até mesmo a elladrin, pudesse lhe indagar algo novamente.
- Crápula mentiroso! – Disse Elowyn colocando as mãos na cintura. – Cheio das esquivas, ele...
Azulth olhou para Kreev e viu um sorriso patético em seu rosto. Sua mão ainda permanecia na empunhadura de seu machado, enquanto ele parecia querer seguir o Lorde.

Chegaram à Ilha na parte da tarde do dia, embora mais parecia ser de noite. O céu cinzento da região aparentava estar mais escuro que o de costume, mas era difícil saber se iria chover ainda naquele dia. Seguiram para dentro de uma gruta, onde sairiam no porto para o desembarque. Na costa da Ilha, viram uma enorme escadaria que seguia circundando as bases da Ilha Pinheiro. “Aquele é o caminho para a Cidade de Pinus.” – Disse o Lorde retirando as cargas do barco. A Cidade de Pinus era um bastião para os humanos, uma fortaleza inexpugnável tão grande quanto os olhos de qualquer ser pudessem ver. Impossível era entrar nela pelo mar, pois a “fortaleza” parecia subjugar quem se aproximasse pela costa. À beira da grande escadaria, eles começaram a subir.
- Estamos aqui! Lindo, não é? Dizem que em baixo destas escadas há grutas que levam a caminhos secretos, caminhos escavados por anões em tempos que o homem não pode contar. – Dizia o Lorde vendo a vista do Mar Celedwyn das escadas.
Ninguém quis respondê-lo, seguiram quietos com seus pensamentos, menos Fumaça de Prata:
- É bem bonito, tio. Mas e agora, o que a gente faz na cidade? – Perguntou. Os três guarda-costas fitaram-na, depois olharam para o Lorde esperando uma resposta.
- Fácil! Montamos minha barraca! – Riu o comerciante esticando seu bigode. A elladrin riu com ele.
- Não gosto disso. – Disse Elowyn aos dois.
- Será o único jeito. Ele não é tolo e tem boa lábia. Mas na hora certa, ele pagará. – Disse Azulth olhando para o draconato que sorriu em resposta apertando o cabo de seu machado tão fortemente que até suas unhas adentraram em seu cabo.

O que a cidade tinha de proteção por fora, não aparentava ter a mesma segurança por dentro. Casa, praças e ruas bem ladrilhadas movimentadas por um furor de gente. Estavam na Grande Feira, o maior centro comercial da cidade e o falar alto dos vendedores eram como música de fundo à caminhada. “Adagas!!” – Gritou um “Sejam sensatos, e levem a melhor comida de Pinus com vocês, aqui!” – Dizia outro. Crianças – ou halflings, eles não souberam ver direito – passavam entre os corredores amontoados da cidade. Fumaça de Prata pediu que eles checassem seus bolsos, pois poderiam ter sido alvos dos pequenos, mas felizmente estava tudo intacto.Chegaram num pedaço sem uso da praça maior, ela era redonda e ladrilhada num azulejo branco e marfim. Haviam várias lojas que a circundavam e enfrente dos estabelecimentos, barracas ocupavam a atenção dos fregueses, era como um comércio à parte que estava roubando a cena na cidade. Este havia sido o motivo de Lorde Bregar instalar sua pequena loja aqui.

"A Cidade Sitiada"

Rapidamente ele puxou sua mochila, correu ao pônei Breda e pegou as armações da barraca com ele.
- Rápido, meus caros. Ajudem-me a montá-la! Tempo é dinheiro! Hohoho – Ria o Lorde empolgado.
Kreev olhou-o com raiva. Mas matá-lo em praça pública iria lhe dar trabalho de mais e benefícios de menos. Fumaça de Prata parecia ajudar o lorde.
De repente, aproximou-se uma figura alta e com voz firme:
- Esperem! Não partam ainda! Gostaria de ver o que vendem! – Disse o tiefling, como eles puderam perceber agora. O Lorde ainda desdobrava seus panos.
- Ora, ora... fregueses! Mas é claro, meu bom homem. Aliás, não estamos de partida, acabamos de chegar! – Rio o Lorde – Um tiefling tão belo e justo como o senhor precisa das roupas certas. – Ele se agachou e puxou um pano vermelho e amarelo de sua mochila. Provavelmente ceda.
- Magnífico! – Espantou-se o novo tiefling. Seus olhos brilhavam enquanto ele tateava e esticava o manto. – É lindo. Quanto custa?
- Para o senhor é um presente, hohoho. – Riu o Lorde esticando seu bigode. Pela segunda vez, Azulth e Elowyn entreolharam-se com a mesma expressão em seus rostos, mas agora, o draconato parecia ter se juntado a eles, perplexos.
- Você é louco, tio!? Faz isso não! – Indagou Fumaça de Prata.
- Ah, esses jovens de hoje em dia. – Ele ria ignorando a elladrin e olhando para o tiefling. – Então, vamos ver como ficou! Prove, vamos!
Ainda surpreso, o tiefling não pensou duas vezes e vestiu o manto. Lembrava os Altos-Bruxos de eras passadas de Solaris. O manto tinha detalhes em ouro e riscos em cetim e o tiefling parecia um conselheiro a ser admirado.
- Não sei como posso lhe agradecer. Este manto é muito atraente para mim. – Dizia ele ainda observando os detalhes da vestimenta.
- Não há com o que se preocupar, hoho. Vamos meus guardas, agora preciso que me montem a barraca!
- Espere seu insolente, o acordo era trazermos você até a Cidade de Pinus. – Disse Azulth com a mão em sua espada embainhada – Agora pague-nos o que deve!
Kreev sacudia seu machado e Elowyn de prontidão fechavam o cerco contra o Lorde.
- Ora, meus bons amigos. Calma lá. Não querem saber informações sobre os ataques dos anãos?
Antes que ele pudesse continuar, ouviu alguém gritar: “Socorro! Socorro ao regente! A Cidade do Sul está sob ataque!” – Dizia uma voz fraca. Era um arauto, um halfling magro e abatido. Não carregava armas consigo e logo foi cercado pela multidão da cidade. Ofegante, ele tentava explicar: “Desde a manhã... aff, aff... Anões estão atacando minha cidade... Nosso comércio irá cair como uma pedra... Onde está o regente?” – Dizia o pequeno ligeiro. Era estranho, pois todos pareciam mais preocupados com ele do que com a situação na cidade. Ninguém havia conseguido falar com o regente, nem deixavam o pequenino entrar no palácio.
- Comercio? – Indagou-se Lorde Bregar – Eu tenho comércios lá! Pelos deuses, meus amigos. Eu vos suplico! Partam para lá o mais rápido possível! Meus negócios aqui dependerão do fator local da Cidade do Sul! – Implorou o Lorde quase se agachando aos pés de Kreev e Elowyn.
- Pague-nos o que deve! – Largou a elfa.
- Não entendem? Se o comércio da Cidade do Sul cair, meus investimentos irão também! Oh, meus estimados, eu peço compaixão! – Dizia agora se ajoelhando, de fato.
Kreev estava um vulcão de raiva. Pronto para expelir seu magma sob o Lorde. Mas fora contido pela conscientização da elfa.
- Talvez ele esteja certo. Corremos o risco de não receber se não seguirmos para o continente. – Disse olhando para o draconato e Azulth.
- Esperem! Eu gostaria de ir com vocês! – Disse a voz firme do tiefling vestindo seu manto escarlate. – Sou grato ao senhor, m’Lord e não vejo como lhe agradecer de outro modo se não prestando meus serviços ao senhor. – Dizia o tiefling agachando-se e arrumando a barraca do Lorde. O Lorde viu em seus braços, que saiam para fora das mangas, tatuagens estranhas, que pareciam dançar na epiderme do tiefling. Era estranho, mas logo pensou que ele realmente era um bruxo.
- Meu bom filho, tenho certeza que sua ajuda será elementar. – Disse o Lorde olhando para ele e esticando seu bigode.
- Bom, devemos partir agora, não? – Perguntou Fumaça de Prata.
Os cinco partiram poucos minutos depois. Não viram guardas pela Cidade de Pinus, só o jovem halfling arauto que ainda era cercado pela multidão que ignorava a cidade sitiada. Pagaram o barco e seguiram de volta a Tubniar. O novo membro se apresentou como Áries, e de fato, era um bruxo. As garotas se espantaram, enquanto Kreev e Azulth bancavam ser indiferentes.

Chegaram à tarde no continente. Uma grande ventania soprava nos Portos de Borar e os cata-ventos do porto rodavam freneticamente. “Eu sei o caminho até a Cidade do Sul” – informou Fumaça de Prata. “Preparem suas coisas e vamos logo!” – Ela realmente parecia ter um certo valor por agora. E depois de reabastecidos nos portos, seguiram as estradas sulistas. Azulth não gostava disso, já achava que era abuso seguir as demandas do Lorde e mesmo assim, não fazia questão de liderar o grupo. Kreev viu no ataque à cidade, uma forma de pregar a palavra de seu Pai nos selvagens, e eram anões a serem enfrentados, isso fez o draconato se empolgar. Áries e Elowyn pareciam prestativos no que pudessem, em relação ao grupo.Guiados por Fumaça de Prata, eles seguiram por campos de vegetação rasteira verde, à Elowynm, pareceu o que um dia havia sido uma grande trilha larga e bem traçada. Um dia de viagem teriam pela frente. Uma árdua tarefa. Mas todos pareciam se empolgar quando falavam em retornar para o Lorde com o trabalho concluído.
Na manhã do segundo dia, acampados nos altos das montanhas do sul, Kreev viu uma fina fumaça dançar no horizonte. Chamou a elfa, e ela pôde constatar o mesmo. “É a Cidade do Sul!” – Disse chamando a elladrin ladina. “Então era verdade... Rápido, aprontem-se!” Desceram as ravinas cada um à sua maneira, no chão molhado das planícies, uma chuva fraca os acompanhava. Correndo eles seguiram as estradas sulistas, estava tudo muito calmo por ali. Fumaça de Prata relatou que aquelas pradarias quase sempre eram habitadas por gnolls e não havia nenhuma viva alma perto do grupo. Preocupados, mas sem fugir de seus objetivos, eles atravessaram as planícies.

"O Massacre na Cidade do Sul"

Lá estava a cidade. Um vilarejo, se não fosse seu pequeno porto que a fazia movimentar em tempos longe de guerras. “É justamente pelo porto que os ataques devem ter começado.” – Pensou o tiefling ao ver grandes navios com velas vermelhas e desenhos de bigornas ancorados no porto. Embora a uma boa distância da cidade, ainda; eles puderam ver alguns civis andando pelos centros da mesma, tinham as mãos levantadas, horrorizados; havia um pequeno contingente fardado num azul que lhes caía mal, combatendo o ataque de criaturas de baixa estatura. Sem mais delongas, correram à entrada da cidade.
Não haviam mais portões nas guarnições de entrada e corpos carbonizados eram o cartão de visitas à Cidade do Sul. “Uma batalha sangrenta nos espera...” – Sussurrou Kreev empunhando seu machado. O mesmo ato fora seguido por Azulth. Fumaça de Prata e Áries vinham atrás dos dois e na retaguarda, Elowyn já tinha o arco em mãos. A chuva havia parado, e o sol já queimava forte fazendo os corpos dos sentinelas exalarem um odor estonteante. O grupo entrou cambaleantes pelo cheiro fétido no ar, mas o comitê de boas-vindas havia apenas começado. Na entrada da cidade, vendo eles entrarem, estava uma tropa de gnolls. Com lanças quase o dobro de seus tamanhos, eles latiram e rosnaram contra os heróis. Três vieram num ataque frontal contra Kreev e Azulth. A batalha havia começado. A lança dos gnolls garantiam o ataque contra o draconato sem esse conseguir acertar-lhe. Dois dos três cercavam-no enquanto o outro dava trabalho ao tiefling. Áries percebeu o restante da tropa há poucos metros deles, e sem pestanejar, começou a fazer movimentos com suas mãos. As mangas de seu manto eram como ginásticas a executarem uma apresentação e seus antebraços davam a impressão de que conseguiam fazer suas tatuagens se moverem. Finalmente, ele apontou para a tropa de gnolls. “Raio Místico!” – Gritou o bruxo. Os humanóides queimaram numa enorme fonte de luz, resultado de seus sortilégios.
- Um bruxo! – Disse Elowyn num misto de empolgação e furor. Áries esticou suas mangas novamente e seguiu em auxílio dos dois combatentes à frente.
Azulth picotava a lança de seu oponente. Sua enorme espada tinha quase a mesma estatura da arma do gnoll. Quando esta já parecia um mero graveto com uma ponta de ferro, seu golpe final foi sem misericórdia. Mas não foi o pequeno humanóide quem gemeu. Fora Kreev, que havia cortado seus dois oponentes ao meio com seu machado de batalha. Esfregou o sangue negro dos gnolls em seu rosto e continuou: “Quero mais! Onde estão os malditos anões pagãos!?” – Dizia entrando nos corredores da cidade. Azulth o seguiu junto de Áries e das duas garotas.No corredor encontraram dois hobgoblins que obstruíam suas passagens, mas foram facilmente vencidos pelos “aríetes” Kreev e Azulth. Chegaram à praça da cidade. Havia uma enorme fogueira queimando em seu centro e hobgoblins atacavam um pequeno pelotão dos guardas da cidade. “Ainda bem que não lutamos sozinhos!” – Disse Fumaça de Prata – “Rápido, a seus auxílios!”. Haviam dois grupos separados de um total de sete homens enfrentando as turbas dos hobgoblins. Vez ou outra aparecia um anão na praça e Kreev tinha o prazer de abdicá-lo. Eles tinham se separado. Áries, Azulth e Fumaça de Prata foram em auxílio do contingente à esquerda, enquanto Elowyn e Kreev seguiram o pelotão da direita. Uma batalha e tanto. De ambos os lados e flancos. Os homens da Cidade agradeciam a ajuda dos heróis, enquanto trocavam ataques com os hobgoblins. O grupo da direita havia terminado o ataque primeiro e rapidamente, auxiliaram Azulth e os outros no flanco à esquerda.

"A Batalha para a Morte"

O último hobgoblin caiu sem vida no chão tingido de sangue e a vitória foi comemorada. Porém, havia mais a ser feito. Os corredores que levavam à corte precisavam ser contidos. Avançaram rapidamente, deixando quatro soldados de guarda na praça, agora eram dez homens e o grupo de guarda-costas a percorrer as vias da cidade.
À beira do palácio, eles temeram o pior. Um fraco grupo de cinco soldados e uma mulher enfrentavam uma legião de anões que os cercavam. “Fiquem juntos!” – Disse a voz aguda da moça. Os anões batiam seus machados e escudos no chão e o solo estremecia. Sem pensar duas vezes, Kreev correu ao encontro das criaturas. Custou para ser seguido pelos outros. Um combate mortal. Azulth protegia o draconato de ataques de ambos os lados, enquanto ele abria caminho na massa anã da praça. Fumaça de Prata assassinava os robustos anões a duras penas, mas na maioria das vezes, não era percebida e quando era vista, Elowyn tratava de torná-la invisível de novo eliminando à distância os observadores. Áries ditava o ritmo da guerra com sua voz potente e grave ao preparar suas mágicas.
- Você aceita meu Pai como sua luz interior? – Perguntava o draconato dilacerando suas vítimas antes mesmo de receber uma resposta delas. – Hei demônio, o que me diz de ajudar aqueles fracos soldadinhos de chumbo cercados? – Dizia apontando para os homens auxiliados pela figura feminina que caiam exaustos.
- Faça o que quiser. – Respondeu Azulth no mesmo nível de incerteza. – Mas não banque o esperto com esses glutões. – Dizia dilacerando outro dos robustos que viera em sua direção.
Kreev abriu caminho até à mulher. Uma elladrin como pôde perceber. “Graças aos deuses temos socorros! Rápido, ajuda-me a conter a fúria destes bárbaros!” – Disse com sua voz aguda. Seus olhos não tinham íris, e Kreev viu que ela chacoalhava as mãos enquanto seu cabelo rebolava para um lado e para o outro ao repetir palavras incompreensíveis para os dois. De repente, uma enorme labareda de fogo correu o flanco direito da praça, acertando em cheio o restante dos anões a combater. Ela parecia empolgada com o resultado, se não fosse a certeza de que mais seres apareceriam. Áries e os outros correram a seu encontro.
- Muito bom. – Disse o tiefling de manto vermelho – Eu não via nada assim há tempos...
- Fui treinada nas artes das mágicas. – Ela dizia voltando a seu estado natural. – Ceciliana é meu nome. Cheguei aqui ontem, antes do ataque. De onde vocês vêm?
- Cidade de Pinus. – Respondeu Fumaça de Prata – E os anões já se acabaram?
- Com certeza voltarão, e com reforços. Devemos seguir para o porto. Fora lá que começaram os ataques, há dois navios de guerra ancorados... – Disse desanimando-se.
- Onde está o poder desta cidade? Seu povo se esconde à medida que vê seu fraco exército defender seus domínios. – Disse Áries olhando em volta, avistando a penas um seleto grupo de soldados da cidade.
- Se escondendo também deve estar o rei. Vamos, nossa causa agora é mais necessária do que nobre. – Intrometeu-se Azulth empunhando sua espada e seguindo a caminho dos portos.
Chegaram numa praça de guerra. Poucos soldados trajados num tosco azul lutavam desesperadamente contra um exército de anãos que brotavam dos navios. Haviam gnolls e hobgoblins presentes também. O clima era denso.
“Se essa é a vontade do todo poderoso, que assim seja!” – Disse Kreev brandindo seu machado e seguindo de encontro aos anãos. “Kreev! Não!” – Gritou Azulth. “Maldição! Não espera nem mesmo eu bolar um plano!” – Disse olhando para os demais e seguindo em seu auxílio. Áries e Ceciliana gritaram. E assumiram suas posições no combate. Fumaça de Prata limpou sua espada e esgueirou-se entre obstáculos para tomar controle do cenário. O arco de Elowyn cantava.
Uma batalha árdua. Os poucos homens da cidade não agüentavam a investida dos anões, Kreev atacava a todos abdicando-os sob sua filosofia de vida. Azulth o seguia. De repente, o tiefling sentiu algo alojar em seu peito. Ele havia abaixado a guarda para ver onde estava Elowyn e os arcanos, e fora acertado por uma lança de um gnoll. Bufando e sangrando, ele brandiu sua espada que atravessou o pobre humanóide. Kreev, de longe, parecia rir do fato. Ceciliana e Áries se aproximaram. O tiefling de manto vermelho trazia um soldado da cidade em suas mãos.
- Você está bem? – Perguntava a elladrin. Azulth ouvia sua voz muito longe. Sua cota de malha jorrava seu sangue e ele parecia estar em transe.
- Ele terá uma hemorragia se continuar aqui! – Dizia Áries esquivando dos projéteis dos anãos. – Precisamos recuar!
- Chame a elfa e o draconato! Vamos para os estábulos!
Voltaram à praça com Kreev, Elowyn e Fumaça de Prata de volta. Um pouco mais de quinze soldados os acompanhavam. Atrás deles, seguia uma onda vermelha e negra de anãos, gnolls e hobgoblins. Chegaram à estrebaria. Deixaram cinco soldados para conter a fúria do inimigo que se aproximavam, enquanto seguiram para os estábulos.
- Traga-me o tiefling. Eu posso traze-lo de volta. – Disse Ceciliana agachando e fechando seus olhos. Áries o colocou em seu colo e eles conseguiram perceber só por agora que ele tinha um de seus chifres serrados. – Ajude-me com sua armadura. – Disse a Áries que com dificuldades, tiraram a cota de malha de Azulth.
Seu peito atlético tinha várias cicatrizes do abdômen às ombreiras. Envolto em seu pescoço, havia uma espécie de corrente. Áries quis lê-la, mas Ceciliana o impediu estendendo sua mão direita sob o peito do tiefling caído. “Se alguma graça me fora dada. Que esta dádiva seja concedida a este ser...” – Disse fechando seus olhos. Áries estava atônito.
- Os anões chegaram! Pobre homens, espero que estejam num lugar melhor agora. – Disse Elowyn referindo-se aos soldados que ficaram para trás.
Suas flechas se acabavam, e o machado de Kreev predominava a cor vermelha em sua lâmina. Fumaça de Prata lutava ao lado do draconato, sem conseguir mais se esconder. De repente, Azulth abriu seus olhos. “Oh, olá novamente.” – Disse Ceciliana com ele em seu colo. O tiefling tinha um semblante de conformismo em seu rosto. Vestiu sua túnica, depois a cota de malha e olhou para ela.
- Há quanto tempo este estábulo está de pé? – Perguntou-o olhando para os anões entrando no aposento.
- Ora... não sei dizer...
- Chame meus homens aqui. – Ele disse olhando para Kreev e Elowyn
- Você está bem? – Perguntou Áries ainda inconformado.
- Eu disse para chamá-los! – Respondeu empunhando sua espada novamente.
Eles estavam no fundo do estábulo, poucos metros os separavam dos anões. Azulth montou com seus companheiros algumas barricadas de saco de areia, feno e esterco. “Isso dará o tempo certo para nós. Rápido, saiam pelos fundos do estábulo! Deixem apenas eu o draconato aqui. Kreev o fitou em desgosto.
- Preciso de seu machado. – Ele disse.
- Então você precisa de mim. – Respondeu o draconato com sua língua bifurcada.
Rapidamente, os dois começaram a atacar as estruturas do estábulo. A madeira velha e úmida do aposento era facilmente quebrada até mesmo pela espada de Azulth. De repente, os anãos romperam a barreia, mas antes que pudessem ataca-los, o teto começou a ceder. Os dois pularam para fora do estábulo e viram o aposento cair com tudo em cima do pelotão de selvagens, esmagando-os.
- Incrível. – Disse Áries atônito.
- Nenhum homem lutará sozinho enquanto eu estiver de pé! – Gritou Azulth subindo em cima de um dos corpos mais próximos. Brandiu sua espada e logo o pequeno contingente de soldados da Cidade do Sul o seguiu aos berros. – Avante, homens! À guerra! À vitória! – Disse correndo em direção aos restos dos hobgoblins e anões que estavam na praça.
- O que!? Ele vai ficar com toda a diversão!? – Disse Kreev seguindo-os, atrás dele, o resto do grupo. Áries e Elowyn ainda tentavam entender os fatos e Ceciliana sorria a correr junto da trupe.
Fora uma questão de tempo para eles dominarem a praça novamente. Com as forças dos anões sob controle, seguiram ao porto e limparam-no das barbaridades dos glutões. Os poucos que sobraram eram perseguidos por um Azulth com um espírito de liderança nunca visto antes por seus companheiros. Ele chocou navio contra navio e com a ajuda de todos, afundaram levando consigo os últimos anões da batalha.
A poeira ainda custava para abaixar. Oito, talvez sete soldados haviam restados, além do grupo de guarda-costas de Lorde Bregar. Eram vitoriosos de uma causa perdida. Azulth fechou seus olhos por alguns segundos e pôs a mão em seu peito. Abri-os novamente, e parecia o mesmo frio e imóvel tiefling de sempre. Sem dar razões à vitória em que todos comemoravam à sua maneira. Ceciliana ria das ações do tiefling. Parecia ter gostado de tê-lo encontrado, mas nem sequer ganhou um “obrigado” do tiefling por sua imensurável ajuda.
A cidade estava livre, e com o comércio seguro, era hora de garantir suas recompensas. Nem esperaram a corte sair de seu palácio e trataram logo de voltar à Ilha Pinheiro. Foram vistos como heróis entre os pobres cidadãos da cidade. E ganharam, cada um, um cavalo para seguir viagem. Elowyn convenceu a nova amiga a se juntar com eles até a Cidade de Pinus onde seria recompensada também por seus serviços prestados. A maga, que buscava dias de heroína, concordou sem pestanejar.
Rumaram de volta para a Ilha Pinheiro. Sujos, com suas espadas e vestes ensangüentadas de um vermelho que parecia reluzir com a luz do sol. Heróicos, defendendo uma causa em comum, aparentemente. Sem perder a oportunidade, Fumaça de Prata profetizou:

- Esse dia entrará na história de nosso mudo! O dia que mostramos o quanto somos bons! Seremos honrados e presenteados com o melhor ouro da cidade de Pinus! Ninguém esquecerá o sangue em nossas espadas e em nossas vestes! Vida longa à Comitiva Escarlate!
As palavras bonitas da elladrin fizeram alguns rirem, outros se assustarem com o título. Mas agora, o que era certo, era que eles precisavam acertar as contas com o Lorde.

"O Acerto Final"

Dois dias de viagem. Os cavalos tornaram o trajeto muito mais prático para eles. Houve tempo para se conhecer melhor, embora houvessem ainda aqueles que preferiam o silêncio. Ceciliana perguntou a sua amiga ladina o motivo do nome engraçado com que ela se referiu ao grupo, mas estava claro que aquela era uma pergunta que não precisava de resposta: um grupo unido por motivos um tanto incertos, mas pareciam funcionar bem em equipe. A maior parte do tempo, Kreev tentou convencer seus “amigos” de que eles deveriam aceitar seu pai no coração. O que não conseguiu com todos, apenas Fumaça de Prata, de tanto o draconato insistir, começou a ver seu propósito com outros olhos, parecendo encantada com as palavras bonitas do visionário, aliás, eram as únicas horas em que Kreev falava bonito. O tempo incógnito não preocupava nenhum deles, já acostumados com as alterações climáticas, fenômenos que faziam Áries se interessar pela geografia de Solaris.

Dos portos eles partiram sem cavalos. Já que os animais não eram permitidos em barcos. Venderam-nos para um ferreiro, no qual rendeu uma certa quantia em dinheiro para todos. A Comitiva Escarlate chegou à Ilha com vários pensamentos, mas apenas um propósito: receber suas recompensas prometidas por Lord Bregar. O céu parecia cada vez mais escuro, à medida que se aproximavam do centro comercial da cidade. Mas foi na praça que receberam a péssima notícia. Cuidando das vendas do Lorde, estava um sátiro de barba longa e cascos grossos. Ao perceber a Comitiva, aproximou-se mancando e jogando a barba em seu próprio rosto:
- Oh... Vocês devem ser os mercenários do Anel de Barril, digo... Lord Bregar – dizia ele ajeitando sua barba ao peito. – Bom, como podem ver, os negócios não vão indo muito bem, mas os falcões trazem as mensagens de que vocês conseguiram salvar o mercado daquela espelunca de cidade... O Lorde agradece.
- Quem é você? Onde está Lorde Bregar?
- Calma linda elfa. Seu Lord está vivo. Eu sou Bambohr, seu melhor lacaio. – disse o sátiro enrolando sua barba com os pêlos do peito cabeludo – Como eu disse, os negócios não vão bem e eu não tenho o dinheiro aqui prometido pelo gorducho.
- Isso é uma blasfêmia! Só podia ser coisa de raça pequena mesmo! – Kreev sussurrou com sua língua bifurcada e empunhou seu machado.
- Quem está chamando de raça pequena, lagartixa!? – retrucou Bambohr – Além do mais, eu disse que não tenho o dinheiro aqui, comigo no exato momento. Mas se vocês pararem de me interrogar, poderão encontrar Bregar na corte da Cidade. Ele foi se encontrar com o regente, pobre homem... Lá, ele espera a presença de vocês para pagar o que deve, ainda mais com o resultado na imunda Cidade do Sul!
O sátiro ria de forma estranha, enquanto voltava a administrar as vendas. Incessantemente, ele inozava sua barba com os cabelos do peito e parecia ciscar com seus cascos o chão ladrilhado da praça.
Abatidos, e com uma péssima recepção para Ceciliana, a Comitiva precisava agora entrar na corte e encontrar Lorde Bregar e o regente.

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Por enquanto é isso, dentro de alguns dias, irei postar o primeiro Diário de Campanha Oficial!

Grande abraço,
John Viking Troll

Um comentário:

  1. Com certeza um texto que vale a pena ser lido.
    Perfeito John, muito bom mesmo ^^

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