5 de janeiro de 2011

Diário de Campanha: O Novo Senhor da Guerra - 14ª Sessão

A Batalha Final

Tive um sonho horrível naquela noite. Sonhei que eu andava por um enorme corredor escuro e úmido, ouvindo passos fortes de metal atrás de mim. Cinco pares de olhos vermelhos se iluminavam às minhas costas enquanto eu tropeçava em meus próprios pés para correr. Então ficou pior, a cada passo que eu dava o corredor estreitava um pouco suas paredes, para um cara que estava correndo, não demorou muito para o corredor se afunilar comigo sendo levemente esmagado no meio dele.
Os olhos haviam sumido atrás de mim dando lugares a berros altos e graves. Era como um exército inteiro clamando “Istvan! Istvan! Istvan!”. Esforcei-me e, por fim, consegui sair da armadilha do corredor sendo levado a um enorme hall quadrado. A iluminação era fraca, mas eu conseguia ver as paredes minando água e sentia um cheiro muito forte de umidade no ar. E lá estava ele. Há uns dez passos a minha frente, Istvan estava parado, sua cabeça de homem-dragão abaixada. Pus-me com dificuldade em posição de batalha, num rápido movimento, tateei meus bolsos encontrando meu orbe mágico. Não sei onde estava meu cajado, de qualquer forma, ele não seria necessário. Assim que mexi meus pés para manter meu equilíbrio o “Ceifador” levantou sua fronte, os olhos brilhando com a luz baixa do local.

- Eldarion, filho de Eldar. – Istvan andava vagaroso em minha direção. Era estranho ouvir sua voz, como a de um humano nobre e gentil ao invés de grave e imponente como a de Kreev, outro draconato como ele. – O que você teme, meio-elfo?
- Como sabe de minha linhagem?! – Retruquei inconformado. Eu não gostava de comentar aos outros que sou filho de pai elfo e mãe humana. Istvan riu.
- Eu sei tudo sobre sua vida, guerreiro da mente! – Ele disse aquelas palavras como se realmente estivesse por dentro dos assuntos de minha vida. – Sei qual é seu vício e quais são seus pecados.
Eu tremi. Os cabelos finos começando a cair sob meu rosto. Não era possível ele ter tanto conhecimento assim. Ou seria?
- Por isso, meu estimado herói, diante dos fatos apresentados, eu lhe pergunto – Ele fez uma pausa para estender uma das mãos, como quem busca um assunto para tratar – Do que você tem medo?
- Você não sabe tudo sobre a minha vida? Fale você.
Me arrependi de ter dito aquilo. De repente, como num súbito, Istvan grunhiu mostrando seus dentes serrilhados e amarelos. Ele puxou sua foice maldita de suas costas – que até então eu não havia percebido a mesma – e investiu contra mim. Seu ataque foi tão forte que eu não tive tempo de esquivar. A lâmina fincou-se entre as minhas costelas enquanto ele ria soberbo.
- Vê, Ébrio? Parece que achei-lhe um ponto fraco! – Sua risada era de um ar de superioridade, não de maluquice ou algo do tipo.
Logo ele puxou sua foice de volta. Eu tremia, mas não havia sangue, muito menos dor. Apenas a visão ficava mais escura que o normal, até eu não conseguir enxergar mais as paredes do hall. A silhueta de Istvan se afastava.
- Você teme a morte, Eldarion filho de Eldar. – Sua voz era o único som que eu conseguia ouvir. – Mas quanto a isso, acho que há algo que posso fazer por você.
Acordei enjoado. A barriga dando voltas e roncando alto. Eu estava na cabana de nosso grupo dividindo um colchão com Bleiner, o monge meio-orc. Levantei-me e ajeitei meus equipamentos. Meu orbe mágico, presente de minha mãe, estava num dos vários bolsos de meu jaleco rasgado e batido pendurado num pequeno cabide de madeira, ao seu lado estava meu cajado mágico, encontrado nas minas dos forjados bélicos de Alendar. Lavei meu rosto numa pequena bacia de mármore fora da cabana e fiquei contemplando o nascer daquele dia. No pavimento que levava às liças, apenas duas tendas estavam montadas: a nossa e a dos “Filhos de Janir”, o grupo de Istvan, o Ceifador. Não quis passar perto do acampamento deles, mas eu ouvia vozes e sons de panelas vez ou outra, pareceu-me que eles já estavam acordados.
De volta a nossa tenda, Bleiner acordava junto dos demais. Logo, todo o grupo já estava de pé, esperando alguma posição. Avisei que passaria a manhã na taverna “Flying Pig”, uma vez que nossa luta seria no início da tarde, eu beberia para tentar esquecer os sonhos da noite passada. Bleiner estaria na biblioteca, há alguns dias ele vem se interessando por livros – gosta dos que têm figuras – com assuntos relacionados ao nosso panteão. Áries, ainda admirado pelo novo anel do meio-orc, e Castiel iriam dar uma volta pela cidade, ver o que poderiam encontrar. Já Kreev ficaria na cabana, ele queria entender melhor as palavras ditas pelo paladino Henk na tarde de ontem. Pediu ainda para Bleiner não demorar muito na biblioteca da cidade pois eles precisavam conversar. Seja lá o assunto que eles queriam tratar, eu não o presenciei, na verdade, bebi tanto que quase me esqueci da hora da luta.

A taverna “Flying Pig” era, comparada com a segunda taverna da cidade, “Fist of Flame”, um lugar mais casual. Famosa por suas bebidas nacionais e acumulo de pessoas da baixa sociedade, a primeira era a “escolha do povo” enquanto a segunda, o “destino chique” para viajantes de passagem.
Adentrei a mesma com uma expressão de tristeza, um semblante que não pertencia há um lugar como uma taverna. Haviam poucas pessoas, comparadas com o grande número de bêbados e loucos presentes nos dias anteriores. Não havia mais aquela alegria do início do campeonato. Lewis me disse que muitos moradores de Alendar deixaram de acompanhar o campeonato com a queda das equipes locais e o grupo dos “Lobos”, os preferidos da multidão. Não pedi para que torcessem pela Comitiva, muito menos pelo grupo de Istvan. Na verdade, pedi para que nem fossem ver a final. Eu tinha a sensação de que nosso grupo seria esmagado pelo draconato negro e seus comparsas, isso, é claro, se nenhum de nós morresse pelo caminho. Tentando não pensar no pior, eu bebi. Bebi como um louco secando garrafas e mais garrafas do taverneiro amigo. Dinheiro não era problema para mim, que tinha um pouco mais de 10.000 Crocks com o câmbio feito por aqueles Diamantes Astrais, o pior foi ter que conter a minha língua. Sempre que eu bebo além da conta costumo falar um pouco mais do que devo e bem, aquela manhã não foi diferente. Contei toda a minha história para um casal de humanos que estavam sentados próximo do balcão, contei sobre todos os assassinatos que já cometi a Lewis, enquanto ele lavava as canecas; debulhei meu último sonho com Istvan para a esposa do taverneiro, que só sabia me chamar de louco e bêbado...

É... é triste...

A parte boa é que metade das pessoas não me dava ouvidos e ninguém parecia realmente interessado em saber sobre as besteiras que já cometi.
De vez em quando, Áries e Castiel passavam pela taverna, tomavam alguns copos comigo e saiam. Numa dessas abordagens, Castiel se mostrava aflita indagando com Áries e eu se ainda havia motivos para permanecermos naquelas terras e principalmente à final do campeonato. Para a barda, a luta contra Istvan lhe causava mais temor do que para mim, ficou evidente que ela queria distância daquilo. Áries tentava explicar que a vitória contra o grupo do Ceifador seria a única chance que teríamos para sair de Alendar, já que o prêmio do Torneio era um barco e não tínhamos mais nenhum outro meio de transporte para deixarmos o continente. Vale lembrar que nosso barco, o barco da Comitiva, estava há milhares de milhas dali, num descampado próximo à cidade de Ludwig, em Tubniar. Tive que concordar com o ponto de vista de Áries, embora a idéia de Castiel nunca deixasse a minha mente.
   
Por volta das duas horas da tarde, Lewis precisou me avisar que já era hora de sair. Eu reclamava que queria beber mais enquanto me arrastava, com dificuldades, para fora da taverna. As pessoas tentavam me evitar. Andando pelas ruas de chão batido da cidade, eu rogava pragas e blasfêmias às crianças que outrora imitavam meus passos bêbados. Agora, elas se agarravam às saias de suas mães que mantinham uma boa distância do bêbado mendigo e seu cajado mágico.
Reencontrei meu grupo em nossa cabana, a tensão era a melhor forma de representar como parecíamos. Preocupados, com o dobro da preocupação em que enfrentamos o grupo de Altolycus, Henk e seus amigos. Ninguém dizia uma palavra. Quietos e de cabeça baixa, arrumávamos o equipamento como uma tarefa mecanizada que um autômato poderia fazer por nós sem ninguém dar conta. De repente, ouvi gritos ecoando pelo pavimento. Era a platéia, gritando o máximo que podia. “Bom, pelo menos eles vieram” – Pensei.
- Está na hora. – Kreev finalmente disse, prendendo suas braçadeiras aos antebraços. 
Ele olhou subitamente para Bleiner e balançou a cabeça num sinal positivo. O meio-orc assentiu. Eu não entendi direito, ainda mais bêbado como estava, mas para mim, parecia que Kreev estava entregando os pontos. O lagartão sabia que daquela luta ele não teria como passar. Entretanto, antes que eu pudesse perguntar algo, os dois deixaram a tenda, seguidos por Áries e Castiel. Eu não estava a fim de ficar para trás.
No pavilhão, percebi que a tenda dos “Escolhidos de Janir” já não estava mais montada. Na verdade, já não estava mais nem ali, no corredor de acesso à arena. Pelo caminho, não encontramos nenhum dos oponentes que enfrentaríamos. Não encontramos ninguém. Seguíamos sem falar nada, rostos fechados e passos fortes e firmes. Os guardas abriram passagem para o Palco Principal e chegamos bem ao ponto de ouvir o Locutor e sua potente voz grave anunciar nossos nomes.
Rapidamente, subimos no palanque sem se preocupar com a vez de cada um. Do outro lado da arena estavam os nossos algozes: Istvan e seus quatro asseclas. O Escolhidos de Janir eram compostos de três drows musculosos e atléticos, com cabelos lisos da cor do mármore, o que causava um certo contraste com a pele negra que possuíam, e potentes cimitarras presas à cintura. Além dos três guerreiros, havia o “guarda-costas” do Ceifador: Sten Yore era um guerreiro enorme, com quase dois metros de altura e uma pele avermelhada como o fogo. Suas roupas fumegavam do calor de seu corpo enquanto sua cabeça apresentava uma grande quantidade de chamas e labaredas ao invés de cabelos. De vez em quando, ao ficar encarando-o, era possível ver alguns fogos-fátuos saindo de seu cabelo para logo depois se apagarem no ar.
Se nós estávamos fingindo não parecer preocupados, Os Escolhidos de Janir não aparentavam nada. Nenhuma expressão podia ser captada de seus rostos frios e calculistas. O silêncio de ambas as equipes foi quebrado pelo locutor que gritou “Comecem!” assim que a platéia se acalmou.

Pensando melhor, eu queria que ele não tivesse dito aquilo.

O Ceifador investiu contra o próprio Locutor, dividindo-o ao meio com sua foice num só ataque. Aquela cena bizarra estava sendo presenciada por uma multidão de civis que logo começaram a correr frenéticos aos gritos. O medo logo chegou à arena. Os expectadores, temendo o pior, começaram a descer as arquibancadas e se atropelarem para fugirem do local. A pouca guarda da cidade invadiu o palanque, tentando analisar o que seriam os pedaços toscos do pobre homem dividido em dois, mas logo, o pequeno grupo de soldados de Alendar se juntaria ao Locutor. Os drows amigos de Istvan desembainharam suas cimitarras e investiram contra eles, que não sabiam se se defendiam ou se afastavam os ataques inimigos. Um a um seus corpos caíram jorrando sangue para as arquibancadas.
Estávamos paralisados. Eu não conseguia nem pensar no que fazer! Eu nunca tinha visto tamanha monstruosidade, nem mesmo quando enfrentei os minotauros de Arthur, o halfling. As pessoas corriam assustadas com a cena, mas logo deixavam a região das liças. Em poucos minutos, estávamos somente os dois grupos em cima do palco. Sem mais juizes, avaliadores e expectadores.
- Novas regras precisaram ser tomadas. – Disse Istvan sorrindo para seus companheiros que voltavam ao palco com as cimitarras sujas de sangue. – Eu espero que isso não seja problema para vocês.
Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, ou responder qualquer insulto ao draconato, o Ceifador estalou os dedos e subitamente ouvimos um “Rrreeeeaaaarrrr!”. Toda a arena estava se mexendo, rangendo suas bases com o solo arenoso da cidade. Então, não demorou muito para a mesma ser arrancada do chão. A plataforma do Torneio estava girando no ar com todos nós em cima dela. Foi difícil manter o equilíbrio – ainda mais depois de umas sete ou oito garrafas de whiskey – e ficar de pé.
Fumaça e poeira passavam agitadas por todos os lados e ao longe era possível ver somente a silhueta de um humanóide, com sua enorme foice nas mãos.
A plataforma diminui seus giros bruscamente, até parar suas rotações por definitivo. Estávamos cercados por um turbilhão gigante de areia e pó que protegia todos os lados do palanque. Seria impossível sair da arena sem passar pelo tufão e também não conseguíamos ter noção do que estava fora do palco, além das proteções do vendaval.

E então eles vieram. Espalhados pelos quatro cantos do palanque, os Escolhidos de Janir nos atacaram de surpresa. Deveriam ter se separado com a presença do furacão, eu não sabia dizer ao certo. Sem esperar um ataque vindo de cada lado da arena, assumimos uma função defensiva. Kreev e Bleiner eram alvos certos de Istvan e seu guardião. Castiel Áries e eu tínhamos problemas em defender-mos nós mesmos dos ataques à distância dos outros três drows guerreiros que agora atiravam flechas em nossa direção.
Um combate mortal poderia ser presenciado por aqueles capazes suficientes de enxergarem por trás daquele furacão de vento e areia. Kreev era um alvo fácil à artilharia de Istvan, ele não conseguia se esquivar e erguer seu machado de encontro à foice do draconato negro. Bleiner também não conseguia descarregar toda a sua fúria contra o Ceifador, tendo seus ataques aparados pela lâmina protetora do guerreiro flamejante. Acredito que, naquela hora, quem estava em melhores condições éramos Áries e eu. Estávamos conseguindo causar ataques à distância nos drows arqueiros, mas também tínhamos dificuldades em esquivar aquelas flechas certeiras. Castiel perdia mais ainda sua coragem. Então, num rápido movimento com sua espada, Sten Yore conseguiu abrir a guarda Kreev.
- Uuugh...! – Gemeu o draconato largando seu machado para cuidar do rasgo aberto em seu peito.
 Ele balançou e ajoelhou-se, as mãos ensangüentadas tentavam tapar o ferimento profundo. Num urro, Istvan cessou a dor de nosso amigo. Ele levantou sua foice aos céus e a desceu, fincando-a com força nas costas de Kreev. Ele nem teve tempo de gritar, apenas grunhiu baixo enquanto seu corpo se desfazia, estava tornando-se pó – do mesmo modo como também desvanecera Roxie, mestre de Bleiner – e não podíamos fazer nada para ajudá-lo. Num impulso, por estar mais próximo de Istvan, Bleiner gritou e o atacou, já ferido. E assim, conhecemos o segundo integrante de nosso grupo a desaparecer. Sten Yore o empurrou com o ombro jogando o meio-orc para o alcance da lâmina do Ceifador. Em poucos segundos seu corpo transformou-se em pó, como seus antecessores.
Castiel cambaleou. Áries, então, tentou reunir o grupo novamente, pedindo a nós três que concentrássemos fogo em Istvan. Estávamos mais afastados do draconato negro e seu guarda-costas do que Kreev e Bleiner. Tínhamos a chance de ataca-los à distância enquanto eles corriam para desferir seus golpes corpo-a-corpo. Conseguimos causar algum impacto nos atacantes, mas era impossível deter seu avanço pela arena. Eles se aproximaram de Castiel, primeiro, com os três drows dando suporte, afastados do centro do combate. Não fora preciso muito esforço para derrubar a barda, mas desta vez, eles não haviam transformado-a em pó. Ela estava morta sobre o chão da arena, seu corpo produzia uma poça enorme de sangue que não conseguia escorrer para muito longe e suas pálpebras estavam pálidas como a de uma estátua. Começamos a perder o controle. O próximo da “lista” foi Áries, com Isvan e seu guardião visando seus furiosos ataques corpo-a-corpo contra ele. Eu tentava dar conta do Ceifador, usando meus poderes mentais, mais afastado deles. O tiefling bruxo era um oponente à altura, entretanto. Ele conseguiu causar sérios ferimentos em Istvan e seu guerreiro protetor que já começavam a ficar atordoados. Mesmo assim, ajudado pelos drows com suas flechas mortais, os Escolhidos de Janir conseguiram cessar as magias do tiefling e logo seu corpo fazia companhia ao da barda, sem expressão alguma.

O grupo de assassinos psicóticos tinha somente mais um alvo pela frente. Eu.

Quando vi Kreev cair fiquei desnorteado. Ao ver Bleiner sumir na arena também, eu já estava atônito, mas tropeçar nos corpos de Áries e Castiel foi deprimente. Os drows riam à distância enquanto eu me levantava assustado.
- O que vocês querem?! – Tentei perguntar, segurando meu cajado mágico perto de mim. – Já não bastam todas as desgraças que cometeram?
Istvan riu, seguido por um sorriso tosco de Sten Yore.
- Eldarion, filho de Eldar. – Suas palavras soaram calmas e quietas. – Eu sei do que você tem medo.
O Ceifador me fitou. Seus olhos vermelhos estreitos eram difíceis de encarar. E de repente, me vi diante de meu sonho. Tive a sensação de ver Istvan perambular por minha mente. Era como se ele soubesse tudo que andei fazendo nos últimos anos e os motivos que me levaram a cometer cada ato meu.
Então, tomado pela fúria e frenesi, expulsei-o de minhas lembranças. Era a minha vez de virar a maré. Aproximei-me rapidamente de um dos drows de suporte de Istvan e entrei em sua mente “Ontem você foi nosso inimigo, hoje você é nosso amigo! Traição!” – Gritei alto fazendo-o virar para mim. Sua mente era como um labirinto escuro e traiçoeiro, difícil alcançar o cerne daquele cerebelo. Poucas mentes foram tão confusas de decifrar como aquela, mas por fim, exclamei para suas terminações nervosas atacarem o Ceifador e então, o drow investiu com um ataque poderosíssimo contra o draconato guerreiro. Istvan já estava devidamente ferido pelas magias de Áries e aquele ataque, produzido por um de seus asseclas, levou-o à morte.

...

Pelo menos eu pensei...

O ataque de traição fez o Ceifador urrar de dor e cair ao chão, como uma tonelada de rochas sólidas. Estava fora da batalha, qualquer ser normal teria desmaiado ou ficado extremamente ferido, no mínimo.
Mas Istvan não era qualquer ser normal. Ele está longe de ser alguém desse nível. Mesmo após sucumbir ao ataque do drow, ele gemeu e se levantou devagar, o rosto ainda sangrando. Moveu as pernas para frente e pegou sua foice das mãos de Sten Yore.
- Nada mal... – Ele andava mancando, olhando o drow causador de sua “morte” e depois a mim. – Nada mal mesmo para alguém tão insignificante! Ter que usar a dádiva de Janir para me reerguer desse ataque, nossa, era algo que eu não precisava fazer há quanto tempo...? Alguns Séculos?! – Ele me fitou. Estava mais fulo do que o normal e logo eu percebi que seria impossível vence-lo.
Perdi as esperanças. Era impossível tentar dialogar com alguém que renasce dos mortos mais revoltado que o de costume. Eu me afastei em direção a uma das extremidades da arena. Estava rodeada pelo tufão de areia e pó. Naquele momento pensei em me jogar dali, mas provavelmente eu encontraria a morte do mesmo jeito que todos os meus amigos.

Infelizmente, perdi muito tempo pensando no que fazer e a morte veio para mim também.

Sten Yore investiu pelo meu flanco esquerdo, seu cabelo soltando fagulhas pelo ar. Sem saber o que fazer, somando o peso de seu empurrão, tudo que eu consegui pensar, naquele instante, foi agarrar-lhe e me jogar para fora da arena junto com ele.
- Você vem comigo, grandão! – Gritei de dor segurando seus ombros quentes.
E então fomos tomados por aquele mar de areia e poeira mística... e de dor também. Gritávamos de agonia ao vermos um ao outro sendo consumidos pelo furacão. Meus membros viravam poeira enquanto girávamos no sentido horário da tempestade e nos misturávamos ao pó do turbilhão.
Num último lance, consegui ver Istvan lá embaixo, na arena, fincar sua foice nos corpos de Áries e Castiel.

E então, tudo escureceu.

Não ouvia nada, não sentia nada. Era um enorme vazio negro ao meu redor.

Teria sido esse o fim da Comitiva Escarlate? O que seria do mundo agora? Os nossos feitos serão lembrados por outros heróis, à beira da fogueira?

Ao que parece, o fim leva somente a um novo começo... 



Último diário de Eldarion “Ébrio” Finruillas.
Localização incerta, época incerta.

Um comentário:

  1. Quase chorei relembrando a morte de Kreev... hehe

    Oque será da comitiva agora? =P

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