4 de janeiro de 2011

Diário de Campanha: O Novo Senhor da Guerra - 13ª Sessão

A Batalha contra Velhos Amigos

“Mas o que...?”

Esse foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça ao ver o “Ceifador” transformar seu oponente em um monte de pó e fumaça.

“Merda!”

Essa foi a segunda coisa que passou pela minha cabeça ao ver Bleiner correndo até o campo das liças chamando pelo nome de seu mestre. Sim, aquele draconato negro transformara em cinzas poeirentas o mestre de Bleiner...

...

Mundo pequeno, não?


Pessoas ainda corriam de um lado para o outro. Era muito difícil conseguir enxergar Kreev e os demais. Estávamos separados por uma massa de gente que invadira o palco das lutas e não parava no lugar. Junto comigo estava Áries e nós buscávamos por Balg’ Or. Após afasta-lo de Bleiner, o maldito me golpeou e fugiu, como uma meninha corre do perigo.

Maldito, novamente.
- Será impossível encontra-lo. A essa hora, ele já deve estar do outro lado da cidade. – Áries tentava me acalmar.
- Bleiner já mais o perdoará. Parece que seu mestre sabia que este mago não era boa companhia...
O fim do dia se aproximou mais rápido do que o esperado, logo, os céus de Alendar já estavam alaranjados com o pôr do sol.
Uma voz alta e grave anunciou o fim das atividades do Torneio por hoje. Pensei que as atividades do Torneio teriam sido encerradas para sempre, mas qual não foi minha surpresa, na manhã do outro dia, ao saber que as liças continuariam?

No dia seguinte, fiquei sabendo por intermédio do taverneiro Lewis que a próxima luta da Comitiva seria contra os Lobos.
Fora ele quem me avisou porque passei o resto da manhã e da tarde daquele dia bebendo e enxugando suas garrafas mais caras e renomadas.

... o quê...?

É uma forma de eu me preparar para lutar também, oras!

Lewis é um cara legal, até me deixou servir algumas mesas, mas rapidamente eu voltava para o balcão quando sua mulher chegava. Como não queria confusão, preferi ficar virando uns canecos por ali mesmo.
De vez em quando, Castiel e Áries apareciam na taverna dizendo que Bleiner ainda estava inconformado. “Beberei por ele. Por sua dor” – Eu respondia. No inicio da tarde eu já enxergava dois Áries e três bardas gesticulando comigo. Lembro ainda de ouvir dos cinco que Kreev estava empolgado por enfrentar o Rei Altolycus e Henk, integrantes do grupo que iríamos digladiar.

Engraçado como o resto do dia a cidade permaneceu tranquilamente calma. Sem confusões, bagunças ou berros de “Salvem-me! Algoron vai me matar!!”
Era como se tudo que aconteceu no dia anterior tivesse sido empurrado, como poeira, para debaixo do tapete...
Lewis ainda me disse que os alendarianos são muito céticos para acreditarem em qualquer babaca de bigode que sai voando por ai e tem machados flamejantes capazes de petrificarem qualquer um. Eles costumam ignorar esse tipo de gente.

Éééééé... acho que vou passar mais uma temporada por essas terras...

Chegada a hora do torneio, despeço-me da barriga de Lewis e de sua patroa reclamona seguindo, com dificuldades, até a área das liças. O sol estava forte, era próximo das duas horas da tarde e eu trançava meus pés neles mesmos. Algumas crianças começaram a me seguir imitando meus tropeços e quiques embriagados...

Malditas crianças sem coração, se aproveitam de um coitado bêbado...

Na entrada para as liças, acabei cumprimentando as duas sentinelas do local umas cinco ou seis vezes... 

Ah... eles eram rapazes tão simpáticos, sempre protegendo as guarnições do Torneio...

*ARRAM*

Cheguei em nossa barraca a tempo de ver Áries lendo e Kreev colocar sua armadura.
Essa segunda imagem não foi uma das coisas mais legais que já vi... Imagine uma tartaruga sem seu casco. Imaginou? Pois é... draconatos são mais ou menos iguais. Sei lá, acho que imponentes armaduras combinam mais com esses caras. Não preciso dizer que ele me fitou com seus olhos vermelhos querendo arrancar minha cabeça por aquilo.
Castiel já estava lá fora e Bleiner chegara rindo do que entendi ser uma caminhada que ele havia feito. Ele mantinha suas mãos dentro dos bolsos de sua calça e seu sorriso me dizia que alguma coisa ele havia feito. Entretanto, como eu não estava em grandes condições para verificar, acabei sorrindo de volta para ele. Do outro lado da ala das barracas, uma voz aguda gritou: “CADÊ MEU ANÉL!!!”
- Essa voz não parece a do Bill? – Perguntou Kreev, terminando de se equipar.
- Parece... que ele perdeu algo de muito valor... – Áries tentava analisar o fato.
- Coitado dele... Tenho pena. – Bleiner sorria.
A voz grave de ontem agora falava alto, como quem incentiva uma platéia a berrar. Entre os urros e gritos dos expectadores, o locutor chamou os nomes da Comitiva Escarlate. Um a um nós subimos no palanque, Kreev, Castiel, Áries, eu e Bleiner; o grupo que participaria da segunda luta das semi-finais.
Já em campo, eu acenava para todos os lados. Várias raças estavam presentes àquela liça, mas os humanos eram grande maioria. O lado genético de minha mãe sempre foi um povo feliz e contente, até mesmo numa terra peculiar como Alendar. “Vamos lá, Bleiner. Mantenha a calma e a concentração.” – Eu massageava os músculos dos ombros do meio-orc monge.
O locutor, então, chamou nossos concorrentes: Os Lobos. O grupo liderado por Henk subiu a arena ovacionado por uma multidão de expectadores, era como se metade do Reino de Donkapon tivesse vindo a Alendar para aplaudi-los, para falar a verdade, acho que eles tinham muito mais simpatizantes do que nós. Fato esse que se alterou, ao término da luta.

“COMECE!” – Gritou o locutor. Silvos e gritos de emoção partiam das arquibancadas numa rápida investida de John contra Kreev. Eu o parei com meus poderes mentais jogando-o poucos metros para o lado.

Nada mal para um cara bêbado, não?

Rapidamente as duas equipes se distribuíram pela arena, Kreev e John faziam seus machados triscarem enquanto Bleiner mirava o paladino Henk, este segundo se defendia ao mesmo tempo em que dava assistência a John. De longe, Áries e Eu mirávamos Bill e Moak enquanto os mesmos causam ataques estrondosos de longa distância no draconato guerreiro. Castiel era nosso baluarte de defesa (orra... que palavras bonitas...) enquanto Altolycus era o ladino que atacava e se afastava do perigo pelo lado deles.
Em poucos minutos, Kreev e John já balançavam, pingando sangue. Bleiner não tinha mais aquele sorriso em seu rosto. Ao ver que isso consumiria a todos nós, Áries mudou a estratégia.
- Ébrio! Concentre sua mente em Moak! Vamos tira-lo do confronto primeiro!
- Ta maluco? Kreev será devorado vivo! Devemos ajuda-lo junto com Bleiner!
- Não! Mire seus ataques em Moak! Derrubaremos um de cada vez, comece por ele!
A estratégia tinha lógica, concentrar os ataques em determinados adversários primeiro. Logo, com minhas habilidades, a ajuda de Castiel e os feitiços de Áries, derrubamos o gnomo de barba comprida. Empolgados, Kreev e Bleiner se juntaram a nós, agora mirando os ataques em Bill. O ladino era esguio, mantinha o machado do draconato longe de seu peito, mas não podia conter os ataques de Áries. Henk, ao ver a virada na maré, convocou seus aliados a fazerem a mesma estratégia, atacando o meio-orc bárbaro primeiro. No calor da batalha, me empolguei com a queda de Bill, mas logo mudei minha expressão ao ver Bleiner ser derrotado por Henk e John. Passamos a atacar este segundo, já com vários ferimentos da lâmina de Kreev. Não foi preciso muito esforço para derruba-lo também, fator este que fez Henk recuar um pouco.
A platéia estava em delírio com as quedas que aconteciam no torneio – ainda bem que ninguém precisou ser levado com mais urgência aos curandeiros como daquela vez com os pobres bardos elétricos... – e os ataques de Henk e Altolycus eram guiados pelos berros da multidão. Isolando o paladino Henk, passamos a mirar em Altolycus, o Rei de Donkapon. Outro ser treinado nas artes do furto, o Rei foi um alvo difícil de derrubar, pelo menos ele não tinha a ajuda de seu “taverneiro”, Henk que precisava cuidar de si mesmo. Com ataques precisos de Kreev e o apoio incondicional de Castiel, Altolycus encontrou o chão da arena, sendo levado junto à Moak, Bill, John e Bleiner.
Agora sim, só faltava um. O dono da taverna O Pala Chifrudo, Henk. Ele tentou se defender o melhor que pode, mas os ataques corpo-a-corpo de Kreev somado as minhas habilidades psíquicas mais às magias de Áries não foram o suficiente para o paladino. Após quase uma hora de uma luta intensa, a Comitiva Escarlate se saíra vitoriosa. A platéia gritou o mais alto que pôde (tenho certeza que alguns berros puderam ser ouvidos até em Anoehin) e saudava nosso feito. Explodindo de emoção, eu pulava o mais alto que podia e abraçava meus amigos, inclusive a barda e aquele seu decote...

... o decote... siiiiimm....

*ARRAM*

Num relance, entre os humanos que antes apoiavam os Lobos, vi um ser encapuzado num manto negro. Sua silhueta parecia humana, mas eu não tinha certeza com o suor e meus cabelos cobrindo minha vista. Num relance, após esfregar meus olhos, ele não estava mais lá. “Que seja! Não interessa para mim. O importante é que a Comitiva está na final do Torneio!” – Eu pulava tentando incentivar Áries a fazer o mesmo, mas o bruxo apenas sorria caricato.

Tenho certeza que Bleiner ficaria tão empolgado quanto eu.

Com a poeira já abaixada, aproximando-se do fim de mais um dia, seguimos até nossa cabana. Bleiner já estava lá, com o semblante da satisfação em seu fronte. Ficara sabendo por meio dos curandeiros que fomos vitoriosos. Ele mostrara ao grupo o motivo de sua alegria imensa naquele dia, mesmo após ter perdido seu mestre: um anel de circunferências negras que ele disse ter achado por ai.
- Parece-me bom. Fico feliz por você, guri. – Disse sentando-se ao seu lado, analisando meus próprios equipamentos.
- Esse anel... Tem algo a ver com o fato de Bill estar desiludido até agora, Bleiner? – Castiel perguntou, sempre com seu extinto de “garota bondosa”.
- Não, não – Bleiner o esfregava entre as mãos. – Não tem nada a ver não, moça.
Neste momento, Altolycus, Henk e o restante dos Lobos passaram por nossa tenda. Contundidos, cobertos por faixas e curativos, foi difícil segurar o riso diante daquela cena.
- Os mais fortes venceram. – Orgulhou-se Kreev à medida que eles passavam por nós.
- É verdade. – Concordou Henk, com a mão sobre um corte na barriga. – Foi uma ótima luta, acho que andamos subestimando a força de vocês.
- Para falar a verdade, foi bom que a Comitiva Escarlate tenha ganhado – Altolycus passava meio mancando. – Eu não agüento mais ficar nessa terra, preciso voltar para meu palácio e meu tesouro.
- Boa sorte para vocês na grande final – John trazia os dois gnomos Bill e Moak consigo. Um desiludido e o outro ferido demais para tentar falar algo. – Acho que vocês precisarão de toda sorte que conseguirem, mesmo.
- John tem razão. Kreev tenha cuidado. Eu suponho que você percebeu uma figura negra na platéia. Embora rodeado por humanos, era um draconato. Um draconato negro. O “Ceifador” estava ali analisando seus futuros adversários.
- Ei! – Eu interferi o paladino levantando-me. – Eu vi um cara coberto no final da luta, mas quando pisquei, ele já não estava mais lá!
- Aconteça o que acontecer vocês precisam ter extremo cuidado com ele. Não sei muito sobre o “Ceifador”, apenas histórias que contam lá na minha taverna; não posso separar o que é verdade do que é mentira.
- Meu anel... – Um Bill trágico balbuciou ao lado de John.
- E o que vocês farão agora? – Perguntou Kreev.
- Altolycus precisa rever seu palácio – Henk o olhou com desdém. – Mas, sinceramente, creio estarmos há poucos dias de começarmos uma demanda. Entende, esta união de antigos amigos fez bem a todos e...
- Meu anel... – Bill o cortou lamurioso.
- Ah, claro, não fez muito bem para todos, mas o fato é que precisamos alterar algumas questões geopolíticas presentes em Solaris.
- O que querem dizer? – Castiel piscava tentando acompanhar o jeito do paladino/taverneio conversar.
- O que quero dizer, ou pelo menos, o que posso dizer por agora, é que estamos indo atrás de Azulth.
Kreev e Áries recuaram um pouco.
- Azulth? Mas o quê? Mas por quê? – Os dois pareciam atônitos.
- O antigo major de Donkapon? – Castiel agora estava mais curiosa que o normal – Eu sei tudo sobre ele! Ele é um grande ídolo meu!
- O ex-major – Henk estufou o peito – Será nosso Novo Deus da Guerra. Agora, se nos dão licença, precisamos ir pois nosso barco já está de partida. Tchau para todos e cuidado na grande final.
Ele acenava ainda no horizonte, com o resto de seu grupo o seguindo sob o céu tingido de laranja graças ao por do sol. Ali, à beira das duas últimas tendas que permaneciam em pé, ficamos com cara de bobos, um olhando para outro, sem entender muito bem o que o paladino havia dito.

Eldarion “Ébrio” Finruillas

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