17 de fevereiro de 2010

Diario de Campanha Ato II: Esperança - 4ª Sessão

Este é um relato literário narrado pelo ex-major de guerra Azulth à medida que viaja ao lado de sua trupe ao redor de Solaris. Em uma interpretação do personagem sobre as sessões de nosso RPG, o tiefling aborda seus pontos de vista em suas campanhas enquanto sofre influência do passado que não consegue esquecer e do presente tão difícil de viver.

A Passagem Gélida


A chama produzida pela fogueira dançava fracamente aos meus olhos, enquanto um estalo gradativo zumbia em meus ouvidos. Ascensão e queda... “Donkapon não irá cair enquanto eu comandar nosso povo à guerra! Altolycus permanece sentado em seu trono enquanto seu povo morre no campo de batalha!... Às armas!! Um dia vermelho nos espera!... O que querem de mim!?... Melanyn!!!”


Acordei. Não sei por que ainda escrevo meus sonhos nesse bloco velho de papel. Talvez seja pelo fato de que todos eles são lembranças do passado, e eu mantenho este vicio de me apegar ao que já se foi... Dizem que os sonhos são memórias processadas pelo subconsciente das pessoas; o que você pensa, na maior parte do tempo, provavelmente sonhará com isso... Melanyn...

O Templo de Namu. Jamais pensei que um dia estaria aqui dentro... Depois de tudo que já presenciei, deslizes, açoites, vitória e esperança... Este grupo, onde fracamente posso chamar de amigos, é a única coisa que me prende a esta vida mundana... “Lutar ao lado de mercenários é ter um exército descartável em suas mãos” – Meu antigo general já me dizia... A jovem maga que o diga, de tanto buscar a morte, acabou encontrando-a. Talvez ela ainda tenha sido mais forte onde eu subitamente falhei... Encare os fatos, hoje, quem queria morrer está vivo e quem buscava o sentido da vida está morto...

A fogueira já está apagando, este corredor repleto de água me impede de manter uma ronda produtiva, gostaria de saber se o dia já está para amanhecer...

Na suposta manhã do novo dia, continuamos nossa jornada. Atravessando os corredores com água até a minha cintura, ainda foi possível encontrar alguns baús que rapidamente os integrantes da Comitiva com mais dotes para o furto conseguiram abrir.
Seguindo pelos caminhos molhados, nos deparamos com uma sala onde seu nível era mais baixo que o corredor. Para entrá-la, era preciso submergir dos degraus de acesso e ter uma boa respiração, já que o aposento era completamente tomado pela água. Destemida, Fumaça de Prata desceu os degraus e logo já estava com água além do topo de sua cabeça. Reparei que o fluxo torrencial fazia-a pender para um dos dois lados da sala, sendo difícil nadar pelo meio dela. Quando ela voltou, dizendo-nos o que viu, relatou que haviam alavancas fixadas em duas paredes da sala. Dei a idéia de amarra-la por uma corda, afim de conseguir nadar pelo meio da sala. Leve engano, a jovem foi vencida pela correnteza, da qual acabou levando a mim e Kreev para debaixo d’água.
Com dificuldades conseguimos sair, e depois de algumas observações feitas na sala, mudamos os planos: Eram necessárias duas pessoas para puxar ambas as alavancas ao mesmo tempo, afim de que o nível da água abaixasse. Sugeri que Áries e Fumaça fossem amarrados pelas cordas, enquanto eu e Kreev seguraríamos eles para operarem as alavancas. Para isso, era necessário que Áries e a elladrin dessem um puxão na corda para avisar quando estavam em posição. Eu e Kreev responderíamos simultaneamente onde os dois, então, puxariam as alavancas ao mesmo tempo.
Tudo correu de forma rápida e organizada. Quando as alavancas foram puxadas, o nível da água começou a baixar. Esvaziada a sala, percebemos uma porta que havia acabado de se abrir. Para onde eu teria, mais uma vez, a chance de encarar minha morte...
Ao entrarmos na nova sala, a porta fechou-se, selando-nos ao novo patamar do Templo. O chão era composto de gelo, em sua maioria, bem como as paredes e o teto. As roupas molhadas logo começavam a incomodar com um leve vento gelado que soprava na saída da sala. No corredor, nossos medos foram testados mais uma vez: havia quatro figuras bruxuleantes que dançavam e caminhavam vagarosamente. Elas emitiam um pranto que fez meu coração gelar. Uma gota de suor desceu pela minha espinha, e perdi a concentração. Logo, os quatro fantasmas vieram em nosso encontro.
Recuperei os sentidos a tempo de desembainhar minha espada e ver Kreev berrar de fúria, golpeando, como podia, as criaturas fantasmagóricas. Atrás de mim, as falas mágicas de Áries fizeram seus sortilégios queimarem as criaturas. Eu não podia fraquejar agora. Investi contra uma delas, Fumaça de Prata se esgueirava, o arco de Elowyn cantava. Tudo levava a uma vitória valorosa daquele grupo, quando um guincho pôde ser ouvido por todos. Os fantasmas abriram caminho para uma nova forma que surgia num azul opaco. No meio do combate, havia um espectro aterrorizante que sem perder tempo, atacou o draconato guerreiro. Me perdi, novamente. O azul claro das paredes de gelo começavam a dar lugar a uma escuridão manchada em minha vista... Pude ouvir a voz de minha amada novamente... Melanyn... eu sou o culpado por você se for... Mas talvez por isso ainda valha a pena lutar. Talvez por isso eu ainda ai de brandir minha espada contra aqueles que querem me separar de minhas lembranças! Abri meus olhos e vi Áries sendo golpeado pelo espectro. A fúria explodia em meu coração. Malditos são os tieflings, que não conseguem esconder a raiva para sí. O espectro iria pagar. Mirei um golpe poderoso nele, do qual me revigorou. Vendo a Comitiva cair, juntei martelo e bigorna de volta ao ferreiro. Compartilhei minha sina com Kreev e os demais. Estávamos de volta à luta. Os fantasmas explodiram num clarão de luz, o espectro desapareceu diante de nossos olhos. Somos joguetes. Joguetes de algo que não sei explicar, mas que se alegra em ver o rancor e a lamuria presente em nossos semblantes...
Cansados, mas orgulhosos, continuamos pelas passagens gélidas do Templo. Pelo caminho, ainda foi possível coletar alguns bons itens, a maioria encantados, que se faziam presentes em baús em salas escondidas. Tive o prazer de encontrar em um dos baús uma lâmina mágica, uma espada relampejante. Não sei ao certo como ela foi parar ali, nem seu nome verdadeiro, mas o artefato é bonito e pode ser que seja útil em batalhas. Devo ressaltar aqui que a elladrin ladina também se interessou pelo mesmo, talvez eu devesse ficar desconfiado de sua lábia. É bem verdade que uma lamina curta desta deveria surtir mais efeito com alguém que caminha despercebido, como ela.
Após alguns corredores onde procurávamos por mais tesouros, acabamos encontrando aquilo que foi nosso momento de pagar por nossos pecados: no corredor por onde andávamos surgiu algo que jamais vi enquanto militar, um enorme cubo gelatinoso aproximou-se de Kreev tentando suga-lo para dentro de si. Haviam restos de gente e pedaços de ferramentas esperando a decomposição dentro da criatura. O draconato, sem conseguir fugir, acabou engolfado pelo cubo. Rapidamente desembainhei minha espada mirando ataques na criatura, fui seguido pelos demais. Kreev fora expelido pelo cubo e qual não foi minha surpresa ao ver que ele se lançou contra mim. Sem conseguir reagir, fui imantado pela criatura de núcleo ácido que queimava minha pele. Nem em tempos de prisioneiro de guerra sofri tortura parecida... Quando tive a chance, me libertei daquela massa pútrida e recuperando os sentidos, voltei a ataca-lo. Era estranho, acho que andamos longe demais...
Permanecemos atacando-a enquanto ela se jogava contra um de nós. De repente, fomos surpreendidos por mais uma destas pragas. Quis entregar os pontos novamente. Estávamos tendo baixa, o ácido gelatinoso fazia o corpo queimar em questão de segundos. Não demorou muito e logo eu já sangrava mais do que suava. O sangue que descia de minha testa fez arder meus olhos e perdi minha visão por alguns minutos, foi tempo suficiente para ser engolfado por um do cubos e viajar para seu mundo maldito. Era meu fim. Lembro-me do efeito explosivo do acido, corroendo minha armadura e então, tudo ficou escuro...
Sentia um vento gélido bater em meu rosto. Estava frio demais para um ser de sangue quente como eu. “É isso.” – Pensei. “Aqui chegam ao fim os dias do Major de Donkapon... Melanyn? Eu poderia revê-la outra vez!?”

Lembro-me de ser chacoalhado por Elowyn e ver o resto do grupo se recuperando numa pequena sala do Templo. Ela sorriu, parecia estar feliz por me ver vivo. Eu estava desanimado...

Aqui termino mais este relato. Ainda estou me recuperando dos ataques do cubos e talvez uma boa noite de sono poderia me render a vitalidade que preciso para continuar seguindo caminho, isso é claro, se eu conseguir ter uma boa noite de sono...

Dia incerto, mês incerto,
Azulth Al’Khalymohr ex-major do Exército de Donkapon.

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