19 de agosto de 2010

Sons de uma Quieta Floresta

Finalmente, Ludwig. Adentrei os territórios do Reino de Dokapon com facilidade. Uma falsa ideologia de amizade impetrada por um falso rei. A paisagem artística de um fim de tarde, com as colinas castanhas ao fundo fez meu peito se livrar da tosse seca e da coriza, que viajava comigo desde Anoehin. O Monte Fumaça era meu reflexo naqueles poucos segundos que permaneci observando-o: o líder caído que ainda tentava permanecer na frente de sua cordilheira, observado pelas Adormecidas. Digno de uma canção, talvez, mas aquele não era o momento certo para isso. Simulei uma contingência àquela fissura geológica, como uma forma de respeito, e em seguida, continuei pela estrada à cidade de Altolycus.


Pareceu-me mais curta aquela estrada, há tempos atrás. Começo a pensar que estou abandonando minha idade tenra; já deve ser tempo de achar que o descanso beira os meus flancos... Será? Será que, enfim, já chegava o tempo em que eu partiria deste plano? Ir de encontro aos que amei e ainda amo? Oh Melanyn... Por que partiste daqui? Por que me forças a viajar por um caminho de pedras que insistem em infligirem-me?

Uma lágrima escorregou pelo meu rosto empoeirado por aquela estrada. Não sei se precisava registrar isso, mas esta é outra de minhas manias que possuo desde meus tempos como cadete. Forçado a dissertar sobre cada detalhe em meus relatórios para meus antigos superiores em tempos de guerra. Hoje eles partiram e eu e minhas manias permanecemos.

Haveria mais a divagar – e se auto flagelar – enquanto percorria a estrada, mas vou priva-lo deste âmago.

O solo começava a mudar, bem como o ar que lufava em meu peito. A Floresta da Neblina estendia suas raízes pelo chão, enquanto a estrada continuava à esquerda das árvores. Eu sei que a rota de chão batido seria o caminho mais seguro a Ludwig. Mas a Floresta já me era uma velha conhecida, e atravessando-a de forma correta, sei que poderia economizar até uma tarde de viagem.

O farfalhar das árvores e o retumbar dos pássaros bicando incessantemente o tronco de grossas castanheiras eram sons que eu já não mais me lembrava. Nas últimas semanas, tudo o que eu podia ver eram caminhos escuros e úmidos, de masmorras que tingiram a minha memória de tempos mais antigo. Não sou druida, muito menos tive treinamento nas artes selvagens – porém dogmáticas – dos patrulheiros; entretanto, conheço estas árvores de copas cobertas de névoa como poucos. Ainda me lembro, uma ingênua criança, perdida mais de dez vezes neste território. Talvez ali eu começara a pensar mais em mim, começara a refletir comigo mesmo. Convenhamos: passar noites de chuva e frio, cercado por barulhos e luzes que me observavam não me dava grandes chances de fazer outra coisa se não conversar comigo mesmo.

Adentrei o caminho mais escuro, passando por debaixo de troncos caídos, por cima de juncos defasados e secos galhos que estalavam ao pisar de minhas botas. Uma pequena claridade surgiu escondida pelos ramos da vegetação; eu sabia que ali poderia descansar. Larguei minha mochila de carga no chão. A mesma caiu como uma pedra no solo fértil da floresta. Encostei-me numa rocha lascada em meio à clareira, as imperfeições que ela possuía não foram feitas pela deterioração do tempo, aquilo foi trabalho humano. Provavelmente patrulheiros em seu dever de protegerem a floresta, ou talvez alguma criatura menos inteligente – eu não sabia dizer.

Ali permaneci por algumas horas. Já é noite enquanto escrevo esta passagem e conhecendo Ludwig suficiente, sei que seus portões estão fechados para forasteiros a este momento. Melhor passar a noite aqui.

Barulhos estranhos de fortes pisadas e urros graves silenciam os pequenos gafanhotos e cigarras, algo está me impedindo de dormir de forma plena; acho que o velho major irá recordar suas angustias de criança...

Mas é melhor deixar isso para outro momento.

- Mensagem de Azulth Al’Khalymohr, encontrada por patrulheiros da Floresta da Neblina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário